Viro
à esquerda por preferir andar do avesso. Hei-de deixar boquiabertos os que me
compõem como um tipo às direitas. Sê-lo-ei, numa base que me rege e que não
descuro, mas fujo, noutros pilares, do cinzentismo, das regras que sufocam. Disseram-me,
há atrasado, que sou um tipo com coluna vertebral – as metáforas são sempre uma
escolha viável – mas que visto uma pele altiva. Disseram-me, outros e mais
informados (não sou tendencioso, apenas factual), que sou um tipo bom – menos trabalho
no que respeita à procura do léxico, o que denuncia a proximidade – e que isso
se reflecte num role inesgotável de razões. Até que sou, em querendo, um
comediante em potência – uma hipérbole tamanha, fora de pé, como se quer. No
trajecto, uma canção feliz, que exige a alegria e o espírito em animação. Que
dispõe o corpo, que o transporta para um começo de dia que augura o melhor. Vozes
há, que mudam as letras. Músicas há que as enriquecem. Suplantam o original
vezes sem conta. É o caso. Aproveito-me dela e magico ideias nada exequíveis e
alienadas. Das que me permitem ruminar largos minutos, desaguando num valente e
despenteado momento de felicidade. Serve o introdutivo para lembrar que somos
todos, um e cada qual, um cabaz psíquica e emocionalmente recheado. Reagimos
conforme o ambiente. Agora um jazz
atencioso, a seguir um rock pesado.
Um fado arranhado, noutra altura um pop
raso. Entro pela porta grande, não me lembro se pela direita ou pela esquerda,
sequer tenho memória de qual dos meus pés pisou o solo primeiro. Está à minha
espera, o rosto ganha uma luz efusiva, respondo da mesma forma. Acena-me, numa
excitação que lhe é característica. Levanta-se, abraça-me e deixamo-nos ficar.
É muito bom. Sentamo-nos, um à frente do outro. Antes de qualquer coisa, perguntou-me
se ainda escrevo, se ainda dedico as minhas pausas, maiores e menores, às
prosas numa folha. Acenei positivamente. Quero ler-te até ao fim, retorquiu.
Certamente há fundo de verdade. As leituras são sempre dos outros.
A vida e a maneira como as vivemos só depende de nós...já as palavras e como tocamos às pessoas nem sempre depende de nós =)
ResponderEliminarNada,
EliminarResumidamente é isso. A vida corre, vamos acumulando experiências que, inevitavelmente vão mexer e reorganizar aquilo que somos. De outra forma, não faz sentido. Depois, como a mensagem chega já não nos diz respeito. Sem expectativas, aguardamos que seja bem interpretada. :)
Bem, pelo que aqui escreves, até que somos parecidos, acho. :)
ResponderEliminarAgora, não me parece que os outros assim me vejam.
A verdade é que sinto algum prazer em não mostrar aquilo que realmente sou. Guardo isso para as pessoas mais chegadas. Poucas. Pensando bem, muito poucas mesmo.
Mam'Zelle,
EliminarArriscaria dizer o mesmo. Que somos parecidos. Venho tendo essa sensação. :)
Os outros não têm essa obrigação, bem sei. Mas também sei que muitos não me vêem como sou. E, sinceramente, não só não me incomoda, como me diverte. Tal como encerras, ajo igual, faço questão de me preocupar com muito poucas.