Na
era do ecléctico, o meu pai foge das ranhuras e intermitências do termo. Não me
lembro de o ver assistir a grandes concertos ao relento, a céu aberto, pisando
o asfalto ou o pó que ganha vida debaixo dos pés e condena qualquer
indumentária alusiva ao estilo musical que aplaudiria, para ficar nas primeiras
linhas que sucedem o palco. Não me lembro, porque nunca aconteceu. Rezam os
relatos, os momentos áureos da corrida aos nomes valentes do rock, ficaram para
trás, para o passado, assim a vida adulta e o casamento se fizeram fronteira.
Depois disso e do nascimento dos descendentes, exasperou-se-lhe a vontade e a
dedicação. Suspeito que adiou. Deixou para depois. Ou viveu o suficiente, no
toque do eficiente. O meu pai não se assume um eterno ecléctico quando o
assunto é música. A resposta brota, ainda a questão vai no termo. A boa música
fez-se nos anos do rock, mas faz-se hoje, tão boa, de outro jeito. O meu pai
oferece o termo à canção. É arte, quando feita com as bases do talento e do
trabalho, conta ele. Como, de resto, se faz um todo da vida. Este homem vive e
vibra com os hits da sua memória,
aplaude as novidades que lhe soam a puro deleito. Seja rock. Os amigos da nossa
família já lhe conhecem a disciplina. E tomam-lhe a influência. Não sei se
importa, mas ser uma parte num núcleo de um todo, é um tremendo privilégio.
Hoje é um dia profundamente corriqueiro. Banal nas definições. Particular nas
entrelinhas. É dia do pai. É o dia do homem que ouve música, vibra com os melhores
acordes e timbres. E, no meio de tudo isto, não é ecléctico. Um dia feliz, pai.
Mas coberto de incoerências. Toma um digestivo datado, enquanto usa uma pedra
de gelo. Condenando o líquido todo, é uma acção tão snobe. Snobe como ele não
gosta. Até já.
Coisas de outros tempos e que nos alimentam o coração. Obrigada por estas palavras!
ResponderEliminardevias mesmo escrever um livro!
ResponderEliminareste é um texto que carrega uma emoção especial, a um PAI, ao teu PAI.
Sou um pouco como esse SENHOR... um pouco disciplinada apenas a musica que me agrada.... :)
Parabens e feliz dia ao PAI e ao Filho :)
Beijinhos e até já
Gostei de ler...gostei mesmo porque podia ter sido escrito para o meu pai. Um não eclectico que acaba por o seu...soube mesmo bem ler-te =)
ResponderEliminarRaquel,
ResponderEliminarEu é que agradeço. Pela disponibilidade e atenção que presta ao que escrevo :)
É precisamente isso. Outros tempos e vivências que nos alimentam o coração, mesmo que por força das palavra e da imaginação.
Entas,
ResponderEliminarMuito obrigado! :)
Sim, não tenho dúvidas de que essa emoção aconteceu. Não pelo redactor, mas pela essência, o meu pai.
A música, acredite-se ou não (e eu acredito) é qualquer coisa de fascinante.
Obrigado, por mim e por ele.
Beijinhos.
Até já!
Nada,
ResponderEliminarAgradeço bastante. Muito obrigado.
Fico, primeiro, muito feliz pela identificação. Depois pelas tuas palavras.
Na verdade, os pais são bem mais do que o patriarca ou a uma das vozes da educação. É particularidades. Como esta.