Bom dia, gente de trabalho. Ouvir-se-á por esse país
afora. Como já ouvi nos lugares mais inusitados. Também, e principalmente, nos
mais humildes. Gente feliz e de palavra. A complexidade apaixonante de viver o
nascer do sol no seu perfeito esplendor. Poeta de madrugada encontra recheio e
encanto em cada pedaço e, com esforço, torna-los num verso primeiro, numa
estrofe depois. Por fim, um poema de conteúdo filosófico. Já se ouvem os
pássaros lá fora. Os New Balance nos
pés, a bateria fraca do telemóvel, uma noite mal dormida e um vento que nunca
sossega. Não há tréguas e saltei da cama. Os óculos de sol preferidos e o rádio
do carro que promete ser a companhia. Na rua, as pessoas pensam e agem em
consciência com as necessidades. Um tipo corre, uma mulher com frio passeia o
cão pequeno, aquele pai leva as crianças à escola e aquela mãe prepara mais um
dia, enquanto naquela varanda corrida, faz uma pausa para acenar para os miúdos.
Duas jovens saem do mesmo prédio e seguem caminhos diferentes depois de trocarem
um beijo. Chego ao destino, ligeiramente antes da hora marcada, e dou os bons
dias a duas ou três pessoas que estavam na entrada. Devolveram-me o silêncio
beliscado pelo vento a soprar. Gente capaz, esta. A minha avó não me deixa
mentir e sempre disse que não é de valor quem não valoriza o outro. No
corredor, e não estou a brincar, está um cartaz cuja figura central é um cão e
pode ler-se por baixo: O melhor amigo nunca falha. A minha avó sempre soube muito
e carregada de razão promoveu todas as vezes que lhe foi possível, a discussão
sobre qual era o papel do ser humano. A realidade molda o pensamento.
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