A
vista condiz com o balão de gin que tenho à minha frente. A companhia também.
Somos três à espera do quarto elemento. Todos virados para o assombro que pode
ser um lugar aos pés de alguém. A altura não debota as cores, antes dá-lhes
vida, afina os traços e confere-lhes rigor. O mar parece mais azul, o pouco casario
finge-se imaculado. O azul vai bem com tudo (nota de redacção: sem qualquer referência clubista associada). Aqui
não é excepção. Daqui não fugimos à ilusão. Perpetramos o sossego de não ir
para além da prosa. Esta manhã, logo cedo, uma cara amiga gabou-me os ténis –
na verdade, não sei o nome que têm, não são ténis, não são alpergatas,
porventura um híbrido do calçado. Tipicamente veranais. Ao final da manhã, já
havia esgotado um tanto do que me esperava. A tarde foi um soluço dos dias e um
conhecido falou-me do meu bom ar. Agora, com a tarde a fazer-se velha, deleitado
com a companhia destes amigos. Já nem faço referência à vista. Que há-de estar
sempre ali, assim lhe seja feita justiça. Aqui, ao redor das bebidas bem
temperadas, com o quarto elemento já na teia, lembrámos como algumas conversas
já nos maçam. Como redefinimos o foco, a direcção do que nos acrescenta e do
que já não nos sustenta. Noutros tempos, talvez menos dotados de filtro. Mais
reveladores de uma imaturidade que não sendo flagrante, sobrevoava-nos. Temos
tempo para lembrar que o Benfica fez-se rei da época e também veste encarnado. A
última, ideia de um beto que não nega as raízes. Do berço cheio de modos de
peralta e do futebol dos vermelhos. Nele, entre risadas, assenta-lhe bem o
encarnado. Discutimos a influência dos outros nas acções de cada um. E do quão
tardo pode ser embarcar nessa rota. Enfim, a tagarelice de sempre. Com muita
carolice à mistura. Enquanto isto, o mundo ao redor não ferve tanto na banda
das coisas boas. Mas ao nosso lado, duas belas jovens trocam fios de flores
miudinhas. Cruzam as mãos e um beijo singelo. Nem tudo está errado. Quando no
meio de tudo isto, ainda há quem escolha viver.
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