Tenho
andado muito. E a pé. Sobre a calçada portuguesa, toda bonita, toda descalça.
Sobre a madeira antiga, em linhas estendida, rezingona como só o tempo permite.
Sob o sol mais picante, na sombra de um espaço bonito também. Não esqueço os
meus óculos de sol de todo o tempo. A mochila com um ar descomprometido faz-se
companhia. Tem a cor certa e o tecido combina – inventei agora, mas juro que
não é mentira. Só este mês, num espaço curto, cancelei duas viagens. Uma dentro
de portas, outra fora. Perdi alguns dias de partilha com os convivas habituais.
No fim-de-semana que acabou, foram dias de veraneio num Alentejo que é saudade.
E que não presenciei. Foram as muitas fotografias, vídeos e ligações do
festival de música que aconteceu a norte, e que iam chegando num enxurro sem
classificação. E que não visitei. Nesta azáfama, nestes passos que não conto,
mas que os sei muitos, vislumbro muita gente. Eles e elas cuja cútis avermelha
com os primeiros raios de sol, de máquina fotográfica a pender do pescoço. Com
chapéus dignos do mais alucinado safari. Os homens com a tez escurecida e
franzida pela força das maleitas do sol, a carregar cabos, colunas gigantes,
escadotes e tábuas. Fazem de uma qualquer rua, um palco a céu aberto. É o tempo
das festas, do vinho na caneca de barro, do cheiro que impregna tudo e todos.
Das ruas feitas corredores de animação. O microfone parece já montado no lugar
certo. Sem voz nem corpo. Os mesmos homens, gastos da trabalheira, deixam-se
sossegar alguns minutos, sentados no poial de uma porta larga, no fresco de uma
brisa que, de quando em vez, deixa-se sentir. Tocam-me, sem intento, no ombro e
pedem-me desculpas num inglês de praia. Era uma habitante da terra equivocado.
Devolvo um não faz mal, no meu português de sempre. Chego ao destino, quem me
apresenta fá-lo dizendo o meu nome completo. Sorriem-me e, uma vez mais,
perguntam-me se sou familiar do doutor com o mesmo nome. Repito-me e de sorriso
no lugar certo, nego. Não sou. Mas tenho andado muito. A pé e de olhos atentos.
Se quer saber.
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