Não
fui de subir aos telhados, porventura, vítima das vertigens que me assaltam,
ainda os metros não são excessivos. Ou por puro aborrecimento. Ainda me fiz
afoito, jogando à sorte. Pisando cadeiras, parapeitos de janela, afiançando o equilíbrio
numa varanda mais robusta. Como se houvesse esperança. De arribar do solo e,
num pulo, chegar a uma estrela. Nunca aconteceu. Enfim, por me ver próximo de
casas que não o permitiam. Ainda que na alienação mental dos tempos de garoto.
Embora, um endiabrado somente nas horas vagas. Tão singelo. Mesmo assim, não
perdoei muros largos e altos. Entre arbustos. Com compinchas a amparar o pé.
Corríamos sem pensar. Atrevíamo-nos na escalada desamparada. Hoje modero as ânsias.
Não esqueço as traquinices. Há pouco, numa rua gira, com prédios altos e alguns
recuperados, no cume do maior, estão várias janelas deitadas sobre o telhado.
Numa, um gato que enfeitiça. Pela beleza exuberante e arrogância castiça. Logo
volvi uns anos. Começo da idade adulta, em casa de uns amigos, onde as águas-furtadas
eram ponto de encontro. Para o palreio sem censura, para o acumular das
traquitanas do dia-a-dia. Dos romances dignos de apneia aos desamores de
prender a circulação nas veias. Compensando todas as parvoeiras. Numa estada
sempre apreciada. E víamos passar. Com toda a desatenção, com todo o vagar. Até
as vertigens não ganhavam lugar. Guardo saudades. A ironia vence sempre. Mesmo
que não a saibam ler. Nunca fui de subir aos telhados, na ignorância feliz de
me saber lá. Agarrado às vertigens sem ocupação. E hoje não é diferente. Estou
onde me permito. E, não desminto, há dias em que me limito. Mesmo que esteja
com os pés em terra firme.
Também nunca fui muito aventureira em criança.
ResponderEliminarMesmo assim, fazia frente a quem se metesse comigo, nunca deixando transparecer que - qual vara verde - toda eu tremia por dentro.
Respondia com firmeza, nunca ficando calada a provocações, por mais temíveis que me parecessem na altura.
Hoje em dia, ninguém se mete comigo. Talvez por isso, e só mesmo por isso, me sinta ainda mais temerária. Não só em aparência, como por dentro também.
;)
Mam'Zelle,
EliminarNão é que a afoiteza meça qualquer nervo. Mas aparenta. E, nisto de partilhar a sociedade, diz que é importante. Prefiro a certeza do que se quer. E fazer.
Relevante é sacudir as incertezas e galgar terreno.
Não me espanta que tenhas sido, desde tenra idade, essa pessoa. A que se chega à frente, antes de temer e julgar arrepiar caminho. A prosa não engana. ;)
Aprecio um certo escudo. Se não melindrar, se não inviabilizar o detentor/a.
Gosto sempre de te ler. E boas lutas! :)