17.7.17

Um sumário dos costumes.

No mesmo dia em que vi um festejo à janela, falaram-me sobre casamentos. Parece desconexo, coisa pouca. Mas não é. Trago a mochila – por demais elogiada - sobre as costas, lá dentro um tudo de coisas. Profissionais, pessoais. Ainda uma dor rasa aqui e uma pontada ali. A idade come-nos a ideia de infinidade. Vão rir-se de mim se verbalizar isto. Com a minha idade, numa versão avô sabichão e fatigado. Ouvir deve ser bem mais tedioso do que arquitectado nesta cabeça. Larguei-me na insanidade de não estar contactável. Perguntam-me o século em que habito. Respondo com palavras e pontuo com um sorriso. É sentido, não é mentira. É um desgoverno como qualquer outro. Praguejam as mais variadas razões para inverter a questão. E, assumo, sequer ouvi uma. Retive nenhuma. Mas gosto de livros, se possível de lê-los. Gosto de escrever, se possível à mão. Gosto de ouvir, se possível os que me acrescentam. Nesta balança improvisada, deixo à consideração o movimento das decisões. Mas volto, aqui sentado, ao sábado passado. Lá atrás, naquela rua que acompanhou o meu passo, estavam duas pessoas numa varanda bonita. Um prédio relho, nada descuidado, todo tratado. As paredes de um rosa imaculado, as portas e portadas largas e num verde cuidado. O mesmo tom dos ferros que resguardam as varandas curtas. Numa delas estavam flores, flores pequenas e pendulares. Atrás, um casal que ria em sintonia. Ele cerrava os olhos, ela puxava a cabeça para trás e levantava um braço que desaguava numa mão que carregava um ramo. Sobre a calçada, de cabeças levadas à janela, estavam pessoas. Um pequeno grupo. Aplaudiam e lançavam pétalas ao ar e pequenos papéis num prata brilhante. A sério, aconteceu. E pareciam felizes. A rua aguardou as comemorações. Ninguém avançou o passo ou recuou a posição. Ainda me dizem que os casamentos não são deste tempo. Não sei se acredito. Ela passeava um longo e branco vestido. Ele um fraque negro. Os convivas trajavam bonitas peças. As flores por todo o lado. Nem as pétalas faltaram. Não sei se acredito. Mas corrobora a minha versão. Os tempos são como as modas. Reciclam-se e cada um serve o que lhe aprouver. Felicidades.

2 comentários:

  1. Li, com tanto gosto, as tuas palavras.
    E, tontice minha, desconforta-me não saber como te dizer o quanto gostei de as ler.
    Não tenho o teu jeito com elas, as palavras. Mas acredito que tenha algum jeito para as sentir. E senti estas, que generosamente partilhas.
    Obrigada.


    (não deixes de postar aqui os teus textos, pode ser?)

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    1. Mam'Zelle,
      Careço, desde sempre, de palavras para agradecer. As tuas visitas, os teus regressos e a prosa sempre elogiosa.
      Obrigado. Por isso e por mais estas. :)
      Não vacilo quando acredito que são palavras sinceras, e isso, é suficiente.
      Quão prazeroso é para mim saber que alguém me lê e sente. Generosidade a tua.
      Obrigado, outra vez!

      Hei-de voltar. (Aqui e às tuas prosas, sempre humoradas e atrevidas)
      Voltarei à partilha. Que os tempos ameaçam ser outros. ;)
      Até já!

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