A
escadaria do metro que antecede uma das zonas mais movimentadas da capital é, a
par de outras estações, um requinte de troca de olhares, uma mistura de
tropeços que se esquecem e falham por ali. É um contacto de voltas directas com
as múltiplas culturas que, felizmente, vamos encontrando. A Felicidade, que não
gosta, nem na intimidade, do seu nome, compensa no corpo, nos actos finos e
tresloucados, se preciso em simultâneo, e nas palavras tortas. Veste-se como
quer, não é oferecida, contudo é bastante ostensiva. É sedutora porque, como
tantas vezes lhe sai boca fora sem pensar, o corpo é dela, desenha-o e
esculpe-o ao seu jeito e feitio. Adorna-o como quer. Quanto às tatuagens, que
as sabe de cor e salteado, mente quando lhe perguntam quantas são. Diz-lhes que
não sabe. Mas faz a perfeita ideia. São treze. Propositadamente treze. Todas
feitas na razão do pião que é a sua criatividade. Os sentimentos são anos que
cessam a razão de cada uma. E torna a calhar-lhe na triste sorte quotidiana,
voltar a passar pela estação de metro de todos os dias. Leva na mão direita uma
mala grande e um livro. É Tolstoi. Tem um ar gasto e sedutor. Pergunto-me
porquê Tolstoi. Ninguém é de ninguém. Nem as afinidades e os interesses. Não
lhe perguntei. Ela seguiu doce e atrevida, como o passado que carimba com a sua
passagem. Subindo a escadaria. A tatuagem maior a olhar para trás.
As viagens de metro e os seus olhares...as lições que aprendemos sobre outros só pelo que vemos...suposições que criam histórias muito mais interessantes que a realidade.
ResponderEliminarBom texto...
Nada,
ResponderEliminarObrigado :)
Eu e parte dos meus amigos gostamos de ficar a ver pessoas passar. Umas vezes arriscamos criar-lhes um perfil. Se acertamos, nunca saberemos. Mas, verdade seja dita, o metro é um excelente palco.