Falava
esta manhã, logo cedo, da minha ausência, enquanto espectador, do grande
movimento dos espectáculos onde se tratam, com respeito, as tábuas pelo nome,
das visitas a exposições várias, onde cada objecto é uma certeza de que nunca
conhecemos uma ínfima parte de um todo. Desse todo que gritamos querer
conhecer, como se fosse um dos cinco desejos obrigatórios, mas nunca o havemos
de concretizar. No meio dessas linhas de incoerentes vontades, lembrei-me de
outro ponto. Tenho uma amiga maquilhadora, não sei se há um padrão para
imaginarmos nas nossas cabeças a definição física quando pensamos em
maquilhadoras. Contudo, quando olho para ela, vejo-a como tal. Bem sei, posso
estar a ser tomado por uma questão de simpatia entre a minha memória e a sua
imagem. Esta amiga é assertiva e vivaz no discurso. Um tanto altiva. É cuidada
no todo. Veste-se de forma coincidente com o discurso. O rosto, porque chama a
atenção, é a tela maior do seu trabalho. A própria diz, não poucas vezes, que a
sua imagem e, lá está, o rosto em particular, são o seu cartão-de-visita. É uma
entrada que convida a conhecer o resto da obra. Levanta-se, escolhe as cores,
aproveita a tela despida e cria. Ao fim do dia desmonta o serviço, limpa a
tela. É uma espécie de roda. Uma roda inventada que não pára. Não cessa
enquanto se gosta do que se faz. Enquanto o que se faz comporta sentimento. A
resiliência tem sempre lugar. De honra.
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