8.7.14

Pintado à mão.

Falava esta manhã, logo cedo, da minha ausência, enquanto espectador, do grande movimento dos espectáculos onde se tratam, com respeito, as tábuas pelo nome, das visitas a exposições várias, onde cada objecto é uma certeza de que nunca conhecemos uma ínfima parte de um todo. Desse todo que gritamos querer conhecer, como se fosse um dos cinco desejos obrigatórios, mas nunca o havemos de concretizar. No meio dessas linhas de incoerentes vontades, lembrei-me de outro ponto. Tenho uma amiga maquilhadora, não sei se há um padrão para imaginarmos nas nossas cabeças a definição física quando pensamos em maquilhadoras. Contudo, quando olho para ela, vejo-a como tal. Bem sei, posso estar a ser tomado por uma questão de simpatia entre a minha memória e a sua imagem. Esta amiga é assertiva e vivaz no discurso. Um tanto altiva. É cuidada no todo. Veste-se de forma coincidente com o discurso. O rosto, porque chama a atenção, é a tela maior do seu trabalho. A própria diz, não poucas vezes, que a sua imagem e, lá está, o rosto em particular, são o seu cartão-de-visita. É uma entrada que convida a conhecer o resto da obra. Levanta-se, escolhe as cores, aproveita a tela despida e cria. Ao fim do dia desmonta o serviço, limpa a tela. É uma espécie de roda. Uma roda inventada que não pára. Não cessa enquanto se gosta do que se faz. Enquanto o que se faz comporta sentimento. A resiliência tem sempre lugar. De honra.

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