30.9.14

Sublevação das gentes.

É na sala por onde passei tantas vezes, que me lembro de olhar para ele, passar os olhos e só guardar a moldura de um dourado gasto. Agora que vejo bem ou, escolhendo melhor as palavras, agora que presto atenção ao quadro que sempre esteve naquela sala, vejo nele uma recordação que alguns dizem longe e sem armas para prevalecer numa sociedade em que os mundos confluem e nunca beliscam. Nesta sociedade. Na falada sociedade do minuto. Contam tudo ao pormenor. Sabe-se tudo a cada instante. É uma discussão que desconhece lugar. É uma aventura de linguagem e comportamento. Fala-se da ditadura efectiva e da liberdade condicionada com a mesma intensidade. Comparam-se termos e valores desprovidos de ligação. Salvando a verdade, este quadro recusa qualquer valorização de um regime ditatorial, antes de um povo que sobrevive sob a barbárie de um nome. Mas é de um tempo que fugir nem sequer era solução. Acusam-me, alguns desmemoriados, quando opino sobre o quanto este país ganhou depois da revolução, de desconhecer a vida de então. Argumento e respondem-me frases feitas. Um discurso com tão pouco volume, como acreditar que algumas décadas depois, tudo mudou.

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