É na
sala por onde passei tantas vezes, que me lembro de olhar para ele, passar os
olhos e só guardar a moldura de um dourado gasto. Agora que vejo bem ou,
escolhendo melhor as palavras, agora que presto atenção ao quadro que sempre
esteve naquela sala, vejo nele uma recordação que alguns dizem longe e sem
armas para prevalecer numa sociedade em que os mundos confluem e nunca beliscam.
Nesta sociedade. Na falada sociedade do minuto. Contam tudo ao pormenor.
Sabe-se tudo a cada instante. É uma discussão que desconhece lugar. É uma
aventura de linguagem e comportamento. Fala-se da ditadura efectiva e da liberdade
condicionada com a mesma intensidade. Comparam-se termos e valores desprovidos
de ligação. Salvando a verdade, este quadro recusa qualquer valorização de um
regime ditatorial, antes de um povo que sobrevive sob a barbárie de um nome.
Mas é de um tempo que fugir nem sequer era solução. Acusam-me, alguns
desmemoriados, quando opino sobre o quanto este país ganhou depois da
revolução, de desconhecer a vida de então. Argumento e respondem-me frases
feitas. Um discurso com tão pouco volume, como acreditar que algumas décadas
depois, tudo mudou.
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