Cai
a noite sobre uma cidade que tem gasto as luzes com o cinza dos dias frios e
com a chuva em ritmo frenético. Os chapéus-de-chuva, tão coloridos ou desenxabidos
rua abaixo. As castanhas bailam nos assadores e largam fumo de presença. É
aviso em cada esquina. Uma, depois outra. As suficientes para chamar as
lembranças. Logo se faz noite e ela se engalana de pontos de luz cruzados. As
fachadas de cada prédio da baixa, ganham um amarelo que lhes bate no material
que os protege e, assim, reflecte. Responde ao descarrilar das vontades
concretas sem destino. É melancólico, esse amarelo tão ogre. Mas ao longe, é
desenho a ouro. Canta Carlos do Carmo o ponto luz em que acredita que a capital
se fica. E tem razão. Cai a noite sobre a bela e feminina Lisboa e as luzes em
cada janela e porta de loja dos prédios antigos fazem como se uma casa de
bonecas fossem. Nada disto é mentira e quem nos vê de fora, não esquece. Quando
falo com amigos estrangeiros, repetem a beleza e a tristeza. Portugal não larga
o fado mas em todo o tempo recebe a visita com agrado. Vai longa a noite. Mais
tarde volto a matar saudades.
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