Um
dia destes, daqueles em que o frio jamais é impedimento para me levantar da
cama e sair para a rua, fui fotografar. Sob uma brisa e neblina tão típicas da
madrugada a correr para o dia. Embora, questione, em cada um desses dias, a
necessidade de me ultrapassar, num horário e temperatura tão descuidados e nada
estimulantes. Ou, porventura, seja esse regelar que pica a vontade. Mas,
fugindo à fuga desordenada de ideias, que fluem conforme vou escrevendo. É um
desafio. Como redigir na máquina de escrever que tínhamos lá em casa. Hoje tão
obsoleta. Então, a elegância e a ilusão de ser escritor de verdade. Lembro-me
tão bem da mecânica e da saudade de voltar a ela. Em detrimento do computador.
Hoje nem sei onde vive. Algures numa arrecadação sem alma. Não tem mais de
duzentos anos, mas é e será, de modo eterno, parte da pele de quem escreve.
Torno a embrulhar as ideias e as memórias. Um dia destes, voltei a sair cedo
para fazer, do meu jeito, uma das artes que mais prazer de dá, fotografar.
Junto ao rio, num passadiço, passou um velho homem numa bicicleta.
Fotografei-o, inevitavelmente. Agradou-me a luz contrária ao seu destino. As
costas dele voltadas para a minha objectiva. Ficou leve e natural. Como andar de
bicicleta. Já em casa, ao voltar a elas com outro cuidado, chamaram-me a
atenção as peúgas do mesmo homem. Encarnadas. Vermelhas, se preferirmos
corrigir o snobismo. E fazendo força para não fugir dos lugares comuns, há
apontamentos que fazem a diferença. E, se permitirmos, nos marcam, em cada uma
das manhãs frias de um outono de verdade.
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