Acordar
cedo é conhecer mais e melhor. Tomas uma bebida quente, aqueces as mãos. Olhas
à volta e, afinal, o cedo foi antes. Há gente a viver as ruas com luz nacional.
Rapariga de tranças curtas. De madeixas iguais. Rapariga de cabelo da cor das
chamas. Da brasa bamboleante. Não é essa, é outra. À antiga já lhe conhecemos
os jeitos, os trejeitos e o feitio desavindo. Agora, há outra ruiva. De cabelo
entrançado. Quase parece um fogo real, no meio da rua. No centro sob o sol de
inverno. Frio e agasalho, camisa de outro design.
Rapariga bonita, de vestimenta pomposa. Havia de gostar da loja de que me
falaram há uns tempos. Em Londres, nas feiras de rua, nos armazéns da cidade.
Achados bons, escolhas felizes. A ruiva rapariga tem uns óculos de sol vintage e, pasmo-me, lembram-me uns da
minha mãe. Desenho actual, lembrança de outro tempo, um qualquer em que as lentes
grandes e as armações empinadas fizeram moda. Qual diva celeste, de ruivos
fios. O casaco grosso pelos ombros, a denuncia de um sol que aconchega. Passam
pessoas à volta. Não chamam a atenção. Ela vem de passo firme, de corpo que
sabe mexer. Absorta, vai olhando à volta. Mergulhada, decerto, nos pensamentos
que fluem. Chegou, aproximou-se. Cumprimentamo-nos. Bom dia, ruiva rapariga.
Bom dia, apetecível rapaz, respondeu-me.
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