27.1.15

Numa rua pequenina há pessoas grandes e vidas roubadas.

Dia ainda menino, a lua bem colocada. Apresentou-se mais cedo ao serviço. Lá no alto que tem vista privilegiada. Rainha, senhora. Postura repetida, de quando em vez. Como se quer na pose de desprovida de relevância. A cada momento exacto, muda a pele que há, porventura, nela. Posa de forma diferente para a objectiva global. Dia ainda rapazote, a tarde a começar. Há frio por todos os cantos, há sol em cada cruzamento descoberto. A casa pequena de cordas na varanda, de roupa num balanço. A casa grande de espelhos bamboleantes no jardim, ficção de piscina a céu aberto. A todos se apresenta igual. Com humor claro, sem classes ou hierarquias. Nisto, cá em baixo, numa esquina, três velhos homens à conversa. Percebi que dois deles foram camaradas de tropa. O terceiro havia ido mais cedo, e lamentava a ausência dos compinchas. Este foi o tema que lhes ocupou os largos minutos. Todos três à esquina, de mãos nos bolsos. A lua a contar. No fim, um deles roubou a mão ao bolso e levantando-a disse: Foram os piores anos da minha vida, roubou-me dez anos de vida.

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