Conta-me
histórias. Avô babado ou vizinho interessado. Avó atenta ou vizinha ternurenta.
O cuidador do jardim sempre com tempo ou a senhora que criava e mantinha o lar,
enquanto cuidava da casa, não deixava de jogar uma palavra. Vá lá, conta-me
mais. Verdadeiras ou farsas reais. Prefiro-as mestiças. Pedir que conte mais e
mais. Num tempo longe. Quando a inocência era o mote. A dúvida era simples. É
mentira pegada ou verdade desenhada. Na carrinha, a cantiga era a mesma e
pediam, desta vez, ao senhor condutor, que colocasse o pé no acelerador. Ou aos
céus que faça sol ao invés da chuva miúda. A Dona Conceição, funcionária da
organização, era paródia no meio da canção. Voltar ao lugar, à escola primária
viva. O banco do jardim, momentos de recreio. Brincadeira sem fim. A tal menina
mexida, julgava-se a Miss nacional.
No ano seguinte, no mesmo banco verde seco, foi namoro de verdade infantil. A
entrada é a mesma. O jardim está mais cuidado. Correm crianças. A velhota de
negro ainda existe. Mudaram-lhe o corpo e o nome, mas vive à volta. Antes,
cadeado na conversa. Agora, chapéu-de-chuva que tapa o sol de inverno. Conta-me
histórias, velha de negro. Na rua, num ou noutro banco de paragem. Saudinha!
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