Não
nos vemos todos os dias, não falamos sempre. Vemo-nos às vezes, quando dá ou
quando decidimos que já passou muito tempo. Mas voltamos sempre iguais. Em
grande parte do que deixamos na última vez em que nos encontramos. E, novamente
frente-a-frente, anunciamos as boas-novas. As chatices também. Ele, depois de
algumas imperiais, falou sem parar - Se te perguntar, prometes responder e
guardar? Se me decidir, ganhando coragem, a perguntar a tua opinião, vais
fazê-lo sinceramente e guardar, apenas e só, para ti? - Talvez, não fossem exactamente
estas as palavras que ele usou, mas foi esta a conversa e lembro-me dela assim.
Ressalva garantida, sei que lhe respondi que sim. Que não é preciso pedir
silêncio. Que vou ouvir, pensar e responder como sempre faço. De forma viva e
verdadeira. Sapiente, se os ligamentos do bom amigo mo permitirem. Se não
estiver saturado. Mas fá-lo-ei, sim. Manda vir. – Perder-me da razão e
embeiçar-me por uma espécie de caça talentos, é fora do circuito? – Depende da
postura de quem caça e do que caça, pensei. – É a mais atestada e testada que
já conheci, continuou. – Não me ri, mas sorri. É, se calhar, a mais sincera que
já conheceste. A nossa conversa avançou e não merece mais pormenores aqui.
Garanti-lhe que só é um problema se nos enche o pensamento. Outra imperial.
Deixa-te disso. Segue em frente que o circuito, as suas definições e o próprio
conceito de sociedade já não são os mesmos. Perde a vergonha e esquece a
pressão. A forma de viver é a liberdade do outro. Esquece a quilometragem. E
sai pela primeira vez. No final, rimo-nos. Como sempre.
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