Não
gosto do Carnaval. Ou, se escolher melhor as palavras, não simpatizo com o
Carnaval. Nem com a folia e o reboliço pelas ruas fora. Mas respeito. Quiçá,
não me identifico com o espírito folião que se apregoa por estes dias. Prefiro
outras manifestações festivas. Sortudo, por esta altura, estou num canto de
Portugal, por onde os festejos se esqueceram de passar. Não foi propositado,
mas agradeço. Não é a consequência de uma qualquer cultura ou educação sobranceira
ou snobe. São gostos. E esses, tanto quanto me lembro, não merecem discussão.
Depois, recuando, foco-me numa imagem que não esqueço. Porventura, a prova de
que o Carnaval ultrapassa os três dias. Uma amiga, uma jovem bonita,
inteligente, servida de eloquência, interessante, alta, esguia mas de carnes no
sítio, apresentou-se, num rasgado propósito, com um novo look. Não importam os motivos. Estava impecável. De pé, sorria sem
controlo. As pernas, tinha-as juntas, assim como, os pés. Neles, calçava uns stiletto beges. Depois de todos os
elogios, não guardou resposta. Disse-nos, de verdade na voz “Este é o meu Carnaval. Desfrutem. Só me
mascaro de quando em vez”. Nunca mais me esqueci. Posto isto, acreditamos
não mais voltar a vê-la naqueles trajes. Nunca mais me esqueci. Até ao dia em
que, divertida, voltou a calçá-los. Não era Carnaval. Era a ocasião que faz o
folião.
Um
ano volvido, a Margarida, que tem nome de flor, sossego e beleza, é a folia no
desprendimento das vozes que lhe são, felizmente, alheias. De saltos altos e
num vestido que mostra as pernas torneadas ou nuns Converse All Star, é quem sempre soube que era. Uma vez esquecido,
para sempre um Carnaval de verdade. É, agora, o folião que faz a ocasião.
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