21.5.15

Filosofia de madeira à janela.

A bancada é de uma madeira praticamente imaculada. A janela na frente, ausente de cortinas e cheia de vida do vidro aos quadradinhos para fora. O jardim é bonito, tem verde com fartura, questões que têm resposta nos outros apontamentos, coloridos. Do rosa tradicional ao laranja apelativo. Árvores e as flores com estórias agarradas, umas outras tão imberbes, frágeis à vista, ainda mais ao toque. Cá dentro, a bancada que inventa pureza tem sobre ela uma tábua, também de madeira. Esta, tão gasta e marcada. Sem lhe conhecermos o passado, sequer os últimos minutos, inventamos-lhe um propósito. Uma causa primeiro, por fim o efeito. No recheio destes dois, ficou o processo. Agora os verdes impecavelmente cortados combinam com o leito, a tábua. A faca é hábil, em resposta às mãos que a comandam. Juntam-se outros tons, quentes e apelativos. Outras texturas e cheiros. Ao lado, quatro copos de vinho. A garrafa meio vazia. A seguir, a confissão. Vezes sem conta, uso e abuso deste ponto. Abro totalmente a janela e fico a inventar. Crio motivos e razões. Justifico cada pessoa que passa na rua junto ao portão. Já vi mulheres corujas, mães felizes, esposas traídas e fêmeas maltratadas. Já vi homens falhados, professores sem pensamentos, pais ausentes e machos felizes. Viver iludido é magia. Como uma brincadeira de criança. Fazer de conta e rir disso. Descobrir as diferenças é outro jogo. Só brinca quem quer. Depois dela terminar o desabafo, foi impossível outra reacção. Fizemos silêncio.

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