25.5.15

Narração dos acontecimentos.

Podia contar-te uma história. Dizer-te que o sexo é sempre um compromisso e que amanhã será a realização de todas as convicções e ilusões de hoje. Pedir-te que acredites como se tivesse esse direito. Porque é o amor, sempre o amor. Ou a necessidade física a ir contra a questão fundamental, a lealdade. Estava a pensar nisto, depois de me cruzar com ele. Conheci-o através de uma amiga muito próxima. Foi-me apresentado já como seu namorado, embora, tenha ouvido algumas coisas sobre ele antes de o conhecer. Na boca dela, querida amiga, era um tipo alto, bonito e inteligente. Era formado em medicina e era de boas famílias. Era calado, mas tinha sempre a palavra certa. Imaginei uma capa de revista e nessas, reza a história, há muito pouco conteúdo real por onde apalpar. Mas acabámos por marcar um jantar de amigos. Não foi difícil identificá-lo, pois entrou com ela e as informações anteriores pareciam estar correctas. Boa amiga esta, verdade seja assinalada, sempre foi bastante pragmática. O homem de todas as relações, aventa ela e eu não digo que não. Confirmou-se, então, a timidez. Ainda assim, e sem darmos por isso, foi fazendo cada vez mais parte do grupo. Até ao momento em que numa das vezes em que ele ia tocar para nós, serão garantidamente longo, e ela chegou sozinha. Chegou ao fim, o espectáculo de cordas e o namoro. Estive com ele depois disso um punhado de vezes. Soube fazer as coisas e, ficou-se somente, pelo lamento do fim da relação. A boa amiga tomou outro rumo, porque sexo é incompatível com a necessidade de sinceridade que uma relação exige. Estamos num bom caminho, estamos a conseguir ser fieis a nós. Com a verdade me enganas. Não obstante, podia contar-te uma história.

7 comentários:

  1. Bem, não percebi nadinha. A sério. Pela primeira vez, não percebi nadinha. (pronto, para ser mais exacta, foram as três últimas frases que estragaram tudo.)
    Mas talvez a intenção seja essa mesmo. A malta não entender. ;)

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    1. Mam’Zelle Moustache,
      Fizeste-me rir. E foi bom :)
      Agradeço a sinceridade ;)
      Efectivamente, o facto de escrever sobre mim e sobre quem e o que me rodeia, nem sempre é fácil. Ainda que, não raras vezes, a realidade seja, apenas, o mote. Obrigo-me, se achar importante, a moldar a narrativa, por força do respeito que os protagonistas me merecem. Talvez por isso, numa ou noutra prosa me permita dançar e brincar com as palavras. O “estamos” com que inicio uma das últimas frases é totalmente abstracto, embora, deva admitir, possa parecer concreto. Por oposição, é um estado e não uma base material. Em momento algum me envolvi ou misturei nesta relação, senão como amigo e, sem opção, como espectador. Em suma, a minha amiga continua minha amiga, o ex-namorado continua meu amigo. Sem prejuízo para ninguém. E o sexo continua a deixar mazelas nas relações.

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    2. :D Bem, acho que vou ter de começar a cobrar por esses (sor)risos. :p
      Não agradeças. Não saberia ser de outra forma que não fosse ser sincera.
      Agora já me parece mais claro. Estava ali a ver um belo de um ménage à trois, não posso negar. E, pelos vistos, estava a ver mal. ;)


      (e, afinal, não foram as três últimas frases que me baralharam. Melhor dizendo, foram as três frases antes da última. Assim é que é. Aquela primeira das três, então… não chego lá. Para mim, sexo é compatível - ousaria até dizer imprescindível - numa relação sincera e saudável.)

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    3. Rir é óptimo. Entre outras coisas, ensinou-me a minha mãe. Que é mulher adepta de um sorriso largo e de uma gargalhada super sonora. Ainda, senhora de um sentido de humor tão apurado. Sempre, reforço, que me rio com o que amavelmente partilhas, é tão sincero, ainda mais positivo. Fazemos negócio, então ;)
      Nada contra o ménage à trois, que a liberdade deve ir, sempre, a favor das orientações e vontades de cada indivíduo. Sem com isso, claro, prejudicar terceiros. Mas não. Sob pena de me tornar bem mais monótono, não foi esse o caso.
      Assim, partilhamos da mesma opinião. Que entendo, sem qualquer margem para dúvidas, que uma relação saudável e sincera vive, em grande parte, de uma partilha afectiva e, obviamente, sexual. Por seu turno, esta minha amiga, de quem bebi a opinião que escrevi no texto, mulher jovem de convicções muito próprias e de experiências muito variadas, aventa que uma relação assumida, vulgo namoro, é incompatível com experiências sexuais com outras pessoas. Porque, ou falha a sinceridade, por fazê-lo às escuras, ou perde a relação assumida. De resto, foi essa a razão que me fez escrever sobre ela, sobre eles. Que, acredito, fogem ao estereótipo da relação amorosa.

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    4. Fico muito satisfeita por saber que desperto (sor)risos aí desse lado. Muito mesmo. Sendo assim, vou ficar à espera de uma proposta, para esse nosso negócio. ;p
      Também sou de achar que cada pessoa é livre de fazer o que quer e bem entende desde que seja sincera e não atrapalhe a liberdade do(s) outro(s). Quanto a este assunto que aqui apresentas em particular, pois que também sou do mais monótona que há. :)
      Concordas comigo e acredito que concordamos os dois com essa tua amiga. Muito dificilmente uma relação de namoro onde exista sentimentos verdadeiros de parte a parte sobrevive, de forma saudável, a escapadelas de um dos membros dessa relação.

      Pronto, agora fiquei totalmente esclarecida. Obrigada pela paciência. ;)

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  2. É interessante como cada um interpreta o "de boas famílias". Gosto de referir "brandos costumes". Confesso que tenho andado a pensar muito sobre o que os costumes significam, sobre a gaiola onde vivem. Confesso que ainda é estranho para mim.

    Obrigada pela tua pequena história, Real. :) um beijo*

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    1. Raquel,
      Perfeitamente de acordo. O "de boas famílias" é um maneirismo tão obsoleto quanto os preconceitos que muitas vezes o fazem verbalizar. Entendo, contudo, que ainda se recorra à expressão para revelar a boa índole de um indivíduo. Ainda que, a interpretação, como dizes, seja diferente de pessoa para pessoa. E, sem falsos moralismos, não tenho uma determinação isolada. Boas famílias, ou gente de boa índole, ultrapassa a instrução, os bens ou a posição que toma na sociedade.
      Sabes, aqui e fazendo qualquer ressalva, as famílias, a minha, a tua, a de cada um, têm um papel predominante, muitas vezes, na forma como embrulham os termos. Penso muito, também porque nem sempre estou de acordo com eles, nessa gaiola castradora da independência e individualidade.
      Obrigado eu, pelas tuas palavras e pelo mote tão pertinente.
      Um beijo :)*

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