Depois
de um bom livro, um passeio. Sol quente, pessoas no parque. Rua com boa cara, a
companhia que importa. Conversámos sobre tantas coisas, que tivemos tempo para
discordar. Alguém aventou que eu tenho tendência para, ora defender os fracos,
os pobres e os oprimidos, ora para apontar-lhes alguns pontos negativos.
Fica-lhe bem lembrar-se de um chavão tão ridículo. Julgava eu que vivíamos em
sociedade e que haviam termos tão obsoletos. É uma questão de integração, nunca
de evasão. Aliás, não vejo estatutos, profissões, contas bancárias, nomes
compridos ou outros critérios desse instrumento de medição inventado, quando
opino. Limito-me aos actos, à posição. Argumentos válidos e sentidos, chegam
sempre a bom porto. Deu o braço a torcer. À volta, continuava a cor e o
movimento tão típicos do bom tempo. Aqueles óculos de sol são extraordinários. Quem
os usa fá-los parecer os melhores. São quase redondos, sem serem círculos
imaculados. A dona coloca-os e tira-os. Volta a fazê-lo vezes sem conta. Parte
das madeixas do cabelo comprido caem-lhe sobre as lentes. Movimenta a cabeça e
espera-se que os fios entendam que devem seguir outro rumo. Tem vinte e cinco
anos e um rosto de miúda, um ar jovem e fresco, tão característico da idade. O
cabelo é claro mas o sol mostra que não há harmonia. Solta um ou outro tom.
Conversa com genica e nunca lhe falta assunto. Cruza as pernas e senta-se no
chão. Enquanto ri e mexe no telemóvel, diz-nos que sonha com o dia em que lhe
desafiem a subir um monte íngreme. Porque gosta da palavra que é sinónimo de
difícil de subir. E não tem medo de desafios. Também os quer a dois.
Aplaudi-lhe a conversa cheia de sentido. E, totalmente de acordo, dei-lhe toda
a convicção. Acredito nesse amor enraizado e nessa trovoada que testa os
limites. Vivendo-o ou não. Tenho, também, tendência para, entre tudo o resto,
acreditar num amor em tudo semelhante ao que os intervenientes imaginam.
Aproveita o sonho, miúda dos óculos cheios de pinta.
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