Estamos
velhos. O mundo gira, gira e volta ao eixo, mas deixa-nos gastos. A idade não
perdoa, queixumes inapropriados para a idade que carregamos. Mas parece-nos
bem, soa-nos melhor. Desta forma, achincalhar a idade do momento, com putativos
e prematuros acontecimentos. No telemóvel, o combinado antecipado. Voltaríamos
juntos, ao lugar de outros tempos. Ao sítio e à série interna de instantes em
que chegávamos e logo se apressavam a expor, na força da memória, o nosso pedido.
Já éramos da casa e, largando falsas modéstias, naqueles momentos, fazíamos a
casa. Tantos anos. Perdi-lhes a conta. Fica a dúvida. Éramos, certamente, seres
inebriados com o encanto, tipicamente imberbe, da adolescência a despontar.
Agora, adultos conversadores, de intelecto estimulado – acreditamos nisto,
deixem-nos viver com isso - e com mitos desfeitos, vontades sôfregas
ultrapassadas, ambições desviadas e vidas que, em grande ou pequena escala,
jamais as havíamos alinhavado desta forma. Ali estávamos. À excepção do espaço,
tudo mudou. Inclusivamente e em grande importância, mudámos nós. Todos e cada
um à mercê das experiências acumuladas. Guardamos actualmente, claro, tantas
questões, relações falhadas, amores inopinados, expectativas goradas, profissões
mais ou menos instáveis, quotidianos ressentidos por tudo. Mas, sem pudor,
vamos avançando na conversa. Estamos velhos. As relações são rápidas e
consumidas no átimo. Abordagens há em que já não nos encontramos. Como me
contavam neste jantar, uma rapariga de uns vinte anos aborda um rapaz de
dezanove. Pede-lhe o número, certifica-se que tem mais de dezoito anos. Daí em
diante, é fácil imaginar. Padronizou-se uma certa faixa. Eles são assim, elas
também. Aqueles são os que as levam a sair. Aquelas são as que atraem. Padrão a
que, parece, é fácil ceder. Mentindo, estamos velhos. Mesmo que o mundo pareça
estar longe dos eixos, as coisas repetem-se. Na nossa geração, na deles, nas
outras do mesmo modo. Fazer por partilhar um cigarro, ainda se faz? Deixámo-nos
de questões frívolas e decidimos ir onde toda a gente vai. É bom, encontrámos
muitos do nosso tempo. Estão na roda-viva da idade, alguns casados, outros
cansados. Qualquer nugacidade que possa, eventualmente, sobressair deste
compêndio, é absoluta simultaneidade de eventos. Mas estamos a ficar velhos,
que ninguém ouse enganar-nos.
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