A
sala compõe-se ao nível da certeza de querer bem receber. A música presente, as
luzes a passar e as velas ao centro. Na folga da comemoração, tempo há para a
conversa e a devida reflexão. Os palmos, até certa idade, são grandeza. Desejas
medir com a mão, uma e outra vez, até chegares ao resultado final. Os passos,
daí até outro tempo, são a validade da medição. Do pequeno carro vermelho de
brincar até à fachada sem fim da casa onde moras. Não pensas nisso, mas tudo é
enorme. Falava com o petiz do lado e tomei-lhe a graça das palavras. Pertinentes,
num português correcto e variado. Largou um lamento sentido, a música de fundo
é perfeita para dormir, tão chata lhe parece, a mesa é tão comprida, o bolo é
maior do que a vontade de comer que, eventualmente, todos juntos pudéssemos
ter. Continuava, lembrando-me que a força da nossa animação estava a perder-se.
Rimos muito, aplaudimos outro tanto, falávamos pelos cotovelos. São as horas a
passar, como entende ele, petiz cansado pela agitação do dia longo. Somos uma
réplica dos loucos. Foge-nos a efusiva erupção da convivência. E nem damos por
isso. Amanhã acordamos, as horas teimaram em não esperar. Tudo mudou, até
aquele imponente relógio ao fundo da sala. Tão menor, que parece outro. Não
arrisques chegar-lhe perto e medir de novo. A desilusão nunca esquece, pior
ainda, nunca falha. Guardo a saudade de acreditar que, em subindo ao cume
daquela árvore, hoje perfeitamente normal, à época monstruosamente grande,
ficaria tão perto do céu. Do palmo e meio ao passo de gigante está tudo. Um
aplauso para isso.
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