Não
se pede silêncio. Apagam-se as luzes. Fica o passado ali, o presente a crescer.
O futuro que há-de vir, a certeza que se nega. Bate o pé sobre a carpete de
desenhos pequenos. A particularidade aos seus pés. As galochas que não escondem
a marca da moda. Bate o pé, espera a afinação. Bate o pé, começa o som atrás de
si. Bate uma e outra vez. O pé calçado, não tem descanso. A perna balança. Os
ombros dançam simpáticos. A um ritmo nada monótono. Soam, atrás, os acordes
esperados. Senta-se, enquanto a saia junta as pernas. Sabe que dali só o
melhor. Canta com as palavras certas, a goela solta. Pega no microfone com a
cara de quem sente. Sente a canção, ri de olhos fechados. Franze o olhar.
Semeia o ambiente ideal. Os ombros não mentem, vão para lá, voltam para cá. Os
cabelos livres acompanham. Levanta-se, salta levemente. Canta sem impaciência. Repete
esta fisicalidade com outras notas, só devemos agradecer. No instante, nada
falta. A jovem mulher que canta como senhora de outros tempos. Que calça como
menina de brincadeira à chuva. Que sente a canção que é da gente, como se
tivesse nascido numa espécie de rua assim. Perde-se a sombra, voltam as luzes.
Com a certeza de que, por aqui ficaremos, até à próxima contemplação.
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