No
Novembro frio, noite a negro e branco, apontamentos de sombra dos candeeiros
colocados. Um casaco quente, a moda de quem corre por gosto. Convite surpresa,
resposta certa. A porta abre-se, a cordialidade de receber. Levam-nos pelo
caminho. Espera-nos uma mesa decorada. Um espaço cuidado. Apresento-lhes o que
trouxe, respira e tem socalcos atraentes no sabor. Cumprimentos demorados,
perguntas da ocasião. Oferecem-nos o lugar, antes uma última resposta à mensagem
pendente. De lá longe, as dúvidas que inventam certezas, o inverso acontece tal
e qual. Fora da hora marcada, chega alguém. Da casa, esquecida algures. Tem o
sorriso largo, como tenho presente. Acena e obriga a nova gestão de lugares. É
assertiva, mas engana com soberba. Os braços despidos mostram as tatuagens que,
imagino, são estratégias da paixão de decorar o corpo. Ficam-lhe bem, que a
responsabilidade do feitio engana com a desconstrução da pintura. Conversa
muito e conta estórias sem fim. Logo sentada, oferece-me vinho. Aceito e
serve-me com cuidado. Não descura, por qualquer instante, a conversa.
Monopoliza, a dado momento, a atenção do olhar. Fala-me de uma cidade distante,
de um evento que a levou à raiz. A música que é paixão, escuta sempre com atenção.
Não me importava de fotografá-la. Guardar, por certo, a negro e branco, a
arrogância da postura e a liberdade das palavras que, em foco, não se ouvem.
Lêem-se os lábios, as tatuagens pelos braços abaixo. O café bem longo que tomou
no final. Perdi, contudo, uma fotografia do caraças. Ganhei um convite para
voltar e para o estúdio de tatuagens conhecer. Perdi a oportunidade de fixar
aquela imagem. Não me livrei de uma selfie
a dois, com direito a redes sociais. Hei-de lá voltar, jovem de sorriso abrangente.
No regresso a casa, de lá longe, a pergunta nunca esquecida. Quem é a dona
daquelas feições?
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