2.12.15

Aceitei um bom vinho e uma selfie à saída.

No Novembro frio, noite a negro e branco, apontamentos de sombra dos candeeiros colocados. Um casaco quente, a moda de quem corre por gosto. Convite surpresa, resposta certa. A porta abre-se, a cordialidade de receber. Levam-nos pelo caminho. Espera-nos uma mesa decorada. Um espaço cuidado. Apresento-lhes o que trouxe, respira e tem socalcos atraentes no sabor. Cumprimentos demorados, perguntas da ocasião. Oferecem-nos o lugar, antes uma última resposta à mensagem pendente. De lá longe, as dúvidas que inventam certezas, o inverso acontece tal e qual. Fora da hora marcada, chega alguém. Da casa, esquecida algures. Tem o sorriso largo, como tenho presente. Acena e obriga a nova gestão de lugares. É assertiva, mas engana com soberba. Os braços despidos mostram as tatuagens que, imagino, são estratégias da paixão de decorar o corpo. Ficam-lhe bem, que a responsabilidade do feitio engana com a desconstrução da pintura. Conversa muito e conta estórias sem fim. Logo sentada, oferece-me vinho. Aceito e serve-me com cuidado. Não descura, por qualquer instante, a conversa. Monopoliza, a dado momento, a atenção do olhar. Fala-me de uma cidade distante, de um evento que a levou à raiz. A música que é paixão, escuta sempre com atenção. Não me importava de fotografá-la. Guardar, por certo, a negro e branco, a arrogância da postura e a liberdade das palavras que, em foco, não se ouvem. Lêem-se os lábios, as tatuagens pelos braços abaixo. O café bem longo que tomou no final. Perdi, contudo, uma fotografia do caraças. Ganhei um convite para voltar e para o estúdio de tatuagens conhecer. Perdi a oportunidade de fixar aquela imagem. Não me livrei de uma selfie a dois, com direito a redes sociais. Hei-de lá voltar, jovem de sorriso abrangente. No regresso a casa, de lá longe, a pergunta nunca esquecida. Quem é a dona daquelas feições?

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