Ligo-te
depois, avisou-me a mensagem que fiz esquecida. Travava, no instante, uma luta
verdadeira. Querer e fazer. Ladeira acima, a calçada insinua-se húmida, os
ténis laranja forte, azul concentrado. New
Balance, um pouco da tua atenção. Ladeira acima, o pensamento consome. Quão
hipster me parece esta ideia. Havia
de ganhar coragem, voltar atrás e, de novo, entrar. Chamam-me atrevido, se
avançar. Ladeira abaixo, invertendo o meu sentido, vem uma camisa carregada de
beijos, uma mala de um amarelo gritante, uma saia mexida e uns sapatos de
menino, não fosse a moda um entendedor que basta. Um cabelo longo de madeixas
bronzeadas. Um peito hirto, um decote reservado. Sorri com convicção e os
óculos escuros obrigam a adivinhar-lhe toda a expressão. Menina bonita, de
passo acertado e flores na mão. Trouxe de um amor preso no coração ou leva para
o destino dono da paixão. Ladeira abaixo, não resisto e levo, na sua direcção,
o olhar. Lá vai ela, dando os bons dias. Aqui e ali. Acenam-lhe e devolvem a
simpatia matinal. Por pela hipster
montra passar, da minha vontade tornei-me a lembrar. Quão confuso é pensar,
insistir e não actuar. Ladeira acima, lá
vou as ideias a juntar. Jogo assim, para desta ideia me livrar. Olha que a rima
no momento do acaso, soa mal mas ajuda a avançar. Bom dia, oiço junto ao
ouvido. Bom amigo, que oportuno encontro. Conversa passada, pergunta-me por
ela. Diz-me, sem pausa para responder, que já não há casamento. Arranjou um
trinta e um. Vai ao sabor do vento. Optou por um bigode e sexo constante. É
relativamente incerto, mas não lhe falta humanidade. Certamente, dono de outra
liberdade. O tempo voa, até mais ver, bom rapaz. Ladeira íngreme e sem fim. É o
ponto de partida. Chegado ao carro, um anúncio de cartomante sapiente. Ri
sozinho, livrei-me da publicidade. Já decidi, não levo flores, não defino o
bigode. Deixo ficar a barba de dias, os ténis juvenis, a carteira no bolso e o
carro no jardim. Leva-me para onde quiseres, fala-me ao ouvido e não leves a
mal. Quão hispter pode ser a montra
de alguém. Ter a certeza, viver sem receio, sem pensar no eventual desdém.
Liga-me quando quiseres. Se a paixão ainda respirar, levo-te um coração a
palpitar. Um ramo de flores, a promessa de voltar.
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