4.2.16

Disque, disque.

Cumpre-se a semana com um jantar. Absorto, toco no ecrã. Sem pensar. Devolvo a prosa possível, desdém entendido, nervo de sal. Picante agreste, rosa-dos-ventos na pele. Literal, assim. Percebo o amor, a confusão da interpretação. Chamam-me pelo primeiro nome, seguido do segundo. Gabo-lhe a tatuagem, o bom gosto e a coragem. Se não me atraiçoa a memória, devo ter, algures, um telefone. Daqueles negros, bem robustos, cuja rodela ao centro conta os algarismos. E deixa brincar. Uma volta, depois outra. As voltas de que me lembrasse. Se não me roubaram a memória, estava lá atrás, tão distante quanto a minha infância. No recinto, entre o corredor e as escadas largas. A seguir à porta de entrada. À frente da imponente porta do escritório. Mesmo defronte para a janela enorme, de vidro limpo, de jardim a espreitar. Daquelas vistas que roubam as palavras. Que o quotidiano belisca a relevância. Gatunos perfeitos. A dar atenção à mesa de uso próprio. Madeira forte, cadeira agregada. O espelho gigante, o quadro que lembrava um elefante. Um dia, uma jarra partida. Pequeno curioso, fartei-me de nela pousar. O telefone era a razão para ali ficar, uma e outra vez, a fazer de conta. A inventar. O dedo escolhia um número. Outro e outro.

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