Lembro-me
dos arranjinhos de flores frescas, bonitas, quase certinhas, ainda assim com ar
selvagem e agreste. Com cores que regalavam os olhos ou em tons mais suaves. Lembro-me
das jarras com água limpa. Da mesa redonda, da madeira forte. Do cheiro a natureza.
Sempre com a luz da porta grande a tocar-lhes. Com os cortinados recuados. Na
cozinha, sempre um ramo generoso de alecrim, outro de alfazema. Cheiros bons e
atrevidos. Começada a Primavera, era sabê-las lá. Naquela sala, inventava-se um
palco de criatividade floral. Os quadros grandes numa estranha e imponente posição
de espectador. Era assim, de mãos meticulosas, que os dias giravam com outro
aroma e graça para a vista. Para criar ambiente, para oferecer vida às nossas
vidas, diziam-me. Lá, devo ter evitado a mensagem, bem mais a imagem, devo ter
passado à margem. Mas é memória. Para lembrar que o nosso quotidiano é
relevante, mas jamais será o mais importante. Não é isolado. O mundo e os
acontecimentos. As experiências multiplicam-se fora de nós, do nosso
conhecimento. Correm à semelhança e ao passo do tempo. Bem escasso, tão valioso
que não se deixa vender. Tão especial que tens o direito de escolher. Pensar é
fácil, mirramos no exacto instante de agir. Oferecer – não despender - tempo a
algo ou a alguém é um dos caminhos. Não que nos soe a egoísmo, mas porque é uma
acção bilateral. Ficar, sem contar os movimentos dos ponteiros, a olhar ou a
conversar, é tremendo. Dás-te ao outro, logo à matéria que não te pertence, e
recebes a certeza de que o teu umbigo é francamente frágil, efémero e, em tempo
algum, o dono do mundo. Mesmo sem prestar atenção, sempre achei genuíno e
elegante o ambiente daquele espaço. Ainda mais no dia em que fiz,
acidentalmente, cair a jarra maior. Colhi cada um dos pedaços e trouxe a
certeza de que são os actos que criam laços.
Real....
ResponderEliminarTu tens sempre esse dom magnifico de me fazer viajar entre os pormenores e os cheiros....
Adoro alfazema....
Adoro a forma como tudo gira sempre à volta da relação humana....da importância que isso tem.
É isso aí.... dizia Seu Jorge ;)
Beijos
Entas,
EliminarObrigado pelas palavras, pela visita! Sempre simpática, sempre a ler nas entrelinhas.
No fundo, é aos sentidos que recorremos quando queremos chegar à memórias. São autênticos indutores. :)
E diz muito bem. ;)
Um beijo.
Até já!