16.3.15

Enredo com tendência para novela.

Vizinha travessa em meio pequeno é como a marquise isolada na fachada de um prédio. Podes não viver ali, não conhecer os rostos, os nomes, as profissões, os feitios e as rotinas, mas não deixas de tirar a pinta ao habitante daquele andar. Passa-te informação, não poucas vezes, em excesso. Não te interessa. Importava-te a arquitectura alinhada. Há um antes e depois. O que outrora havia sido paisagem construída, virou uma espécie de Tetris de mau gosto. Num lugar que não será aldeia, chega a vizinha de todos. O cabelo acinzentado, curto e zangado com o mundo. A bata axadrezada e as mãos nos bolsos da dita. Postura rija, mas sorriso nos lábios. Vem na nossa direcção. Mexe os ombros enquanto nos fisga o olhar, como quem pergunta, afinal, o que fazemos ali. Há fama de lugar falhado. Como se fosse assim, tão fácil como a coerência. Dirigimo-nos a ela e perguntamos indicações. Não conhece, por isso não tinha como ajudar. Contudo, manteve assunto. - Esses não conheço, mas a fulana tal mora ali à frente. É a mãe de três, avó de duas. Amantizou-se com o Carlos, depois de divorciar-se do Manuel. Agora leva o Carlos, filho da Ti B, lá para casa. Mas vão lá, batam no postigo, que ela atende. E sabe de tudo e de todos, não é como eu que não saio daqui. Vão lá. – Enfim, não era ali. E resumi. Seguimos caminho. Mas ficamos a saber da rotina alheia. Passamos pelo postigo, é verdade. Mas não nos atrevemos a incomodar. Talvez, porque já sabíamos a história daquela gente. Superficialmente, é certo. Ainda assim, sabíamo-la. Vizinha marota esta, que não sabe. Não sabe guardar.

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