19.3.15

Homem de vida.

Homem valente, de rotinas marcadas. O alimento daquele corpo e daquela alma. Acordar bem cedo, um hábito de sempre. Avançar na rotina e parar para ler e ouvir as primeiras notícias do dia. Sai depois para um café. Segue para o trabalho. Um dia atrás do outro. O Benfica campeão, se o mérito permitir. O perfume em doses relevantes. A preocupação em vestir bem. Os sapatos impecáveis. O relógio, quando não se esquece, no pulso direito. Tomei-lhe esse hábito, sou incapaz de usar no braço esquerdo. Um bom vinho numa merecedora taça de vidro. Discurso coerente, opinião sempre disponível. Defensor de uma série de questões que vêm sendo destruídas por desmérito e irresponsabilidade de alguns. A integridade que não lhe permite esquecer. Onde está e de onde veio. A família que diz ter escolhido. O amor de uma vida, a mulher que o segura, amparando na ausência de eventuais defesas. O número de filhos exactamente igual ao desejo de outros tempos. A vontade de ler sem fim, passou-ma ele. A cada livro. Semanas havia em que cada dia era ocasião para receber um novo livro, uma história maior. A música, uma paixão de longa data. O rock é rei, num senhor que tem gostos particulares. Cuidados, também. Este homem é o meu pai. Ou, para ser sincero, esta é uma parte tão reduzida deste homem, do todo que o compõe. Do meu pai. Volto um ano atrás e não posso deixar de me repetir. Na era do ecléctico, o meu pai foge das ranhuras e intermitências do termo. Hoje é um dia profundamente corriqueiro. Banal nas definições. Particular nas entrelinhas. É dia do pai. É o dia do homem que ouve música, vibra com os melhores acordes e timbres. E, no meio de tudo isto, não é ecléctico. Fica o desejo de um dia soberbo, pai. Mas coberto de incoerências. Mais um ano, volta a tomar um digestivo datado, desta feita, sem uma única pedra de gelo. Não condenas  o líquido todo, é certo, mas não deixa de ser uma acção tão snobe. Snobe como tu não gostas. Até já.

2 comentários:

  1. Espero que tenha sido um bom dia do pai para ele...e espero que o tenhas deixado ler.

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    Respostas
    1. Nada,
      Obrigado!
      Foi, com certeza. Reunido com a família que diz ter escolhido :)
      Ler, quem sabe, um dia. Disse-lhe, contudo, num discurso abreviado.

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