14.7.15

Assim vai o ensejo.

Numa pausa inócua, inopinadamente entretido com minudências. Estaria, algures entre as minhas notas no caderno preto, as minhas garatujas no dito caderno – que tenho tamanha vergonha na cara que apelido os desenhos que vou fazendo como me parece definir melhor o desmérito, - na secretária de sempre, no computador de algumas horas, no telemóvel e nos e-mails e nas fotografias que lá guardo. Na máquina fotográfica que, sem preparação, faleceu. Paz. À sua alma. Ao momento em que paro para ouvir as músicas de tanto tempo. Ainda, não sendo seguidor de uma certa burguesia, que raras vezes aventam fazer parte da estrutura, estaria no Instagram ou a ler um qualquer texto de um fazedor de opinião. Numa mensagem escrita, falava-me do evento. Havíamos de ir, antes de descermos, continuava. Atraiçoa-nos a pressa dos dias. Sem soluços maiores, num relâmpago mais precoce, eis o dia certo. O recinto alargado, a terra algures sossegada, o palco principal lá ao fundo, em destaque. Ao lado, outros, menores. Fica-lhes o talento buliçoso. Que não tem tempo para brincadeiras alargadas. Nunca de somenos relevância. O espaço compõe-se à velocidade de um vídeo apressado. Aglomeram-se junto ao palco maior, dando primazia aos cabeças-de-cartaz. A curiosidade aguça. Vêem-se, também, pequenos grupos. Amigos e conhecidos em amena convivência. Impera e reina a boa disposição. O corpo pede conforto, os acessórios gritam por socorro. Numa nota mísera, os chapéus ainda estão na moda. As marcas fazem o seu trabalho e, no recinto, estão ao nível das tatuagens. Estão em todo o lado. Chegada a hora, o palco faz vibrar, braços ao alto, mãos num movimento frenético. Entre luzes, som e adrenalina, gritam os espectadores entusiasmados. Sobrevivem, naquela excitação, os telemóveis que alumiam. A fotografia da despedida, o adeus resumido numa mão bamba. De cigarro na boca, ao jeito de um retrato a preto e branco. Foi assim, em grande escala. Numa outra pausa, rir-nos-emos do resto. É sempre assim.

2 comentários:

  1. Já não vou a concertos há algum tempo. Vendi os bilhetes que me ofereceram nos meus anos para ir ver os Muse, quando soube que a Bolachita estava a caminho. Fez dois anos no mês passado. Desde então, não mais senti aquela adrenalina de ver músicos ao vivo. O que vale é que a causa é boa. A melhor de todas. :)

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  2. Eu sei - sou suspeita. Mas quase que poderia dizer que as minhas palavras vivem na música. Por isso te entendo tão bem. E adoro os teus retratos a preto e branco, sem precisar de imagem. :)*

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