27.8.15

Dos relhos amigos reza a história.

Estamos velhos. O mundo gira, gira e volta ao eixo, mas deixa-nos gastos. A idade não perdoa, queixumes inapropriados para a idade que carregamos. Mas parece-nos bem, soa-nos melhor. Desta forma, achincalhar a idade do momento, com putativos e prematuros acontecimentos. No telemóvel, o combinado antecipado. Voltaríamos juntos, ao lugar de outros tempos. Ao sítio e à série interna de instantes em que chegávamos e logo se apressavam a expor, na força da memória, o nosso pedido. Já éramos da casa e, largando falsas modéstias, naqueles momentos, fazíamos a casa. Tantos anos. Perdi-lhes a conta. Fica a dúvida. Éramos, certamente, seres inebriados com o encanto, tipicamente imberbe, da adolescência a despontar. Agora, adultos conversadores, de intelecto estimulado – acreditamos nisto, deixem-nos viver com isso - e com mitos desfeitos, vontades sôfregas ultrapassadas, ambições desviadas e vidas que, em grande ou pequena escala, jamais as havíamos alinhavado desta forma. Ali estávamos. À excepção do espaço, tudo mudou. Inclusivamente e em grande importância, mudámos nós. Todos e cada um à mercê das experiências acumuladas. Guardamos actualmente, claro, tantas questões, relações falhadas, amores inopinados, expectativas goradas, profissões mais ou menos instáveis, quotidianos ressentidos por tudo. Mas, sem pudor, vamos avançando na conversa. Estamos velhos. As relações são rápidas e consumidas no átimo. Abordagens há em que já não nos encontramos. Como me contavam neste jantar, uma rapariga de uns vinte anos aborda um rapaz de dezanove. Pede-lhe o número, certifica-se que tem mais de dezoito anos. Daí em diante, é fácil imaginar. Padronizou-se uma certa faixa. Eles são assim, elas também. Aqueles são os que as levam a sair. Aquelas são as que atraem. Padrão a que, parece, é fácil ceder. Mentindo, estamos velhos. Mesmo que o mundo pareça estar longe dos eixos, as coisas repetem-se. Na nossa geração, na deles, nas outras do mesmo modo. Fazer por partilhar um cigarro, ainda se faz? Deixámo-nos de questões frívolas e decidimos ir onde toda a gente vai. É bom, encontrámos muitos do nosso tempo. Estão na roda-viva da idade, alguns casados, outros cansados. Qualquer nugacidade que possa, eventualmente, sobressair deste compêndio, é absoluta simultaneidade de eventos. Mas estamos a ficar velhos, que ninguém ouse enganar-nos.

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