4.4.16

Saúde e alegria sobre rodas.

Alguém que chegue de bicicleta vai, por certo, atrair a minha atenção. Seja onde for. No outro dia não foi excepção. Não é outra atracção senão o objecto. Porventura, uma ou outra me vá passando à revelia. Não aquela, que há atrasado passeou e parou num jardim da cidade. Perto dos malmequeres viçosos. Entretenha, aqui e ali, de crianças que jogam à sorte. Procurando, num desfile de pétalas pelo ar, chegar à adoração de bem-querer. Parou, com ligeireza, a bicicleta branca. Bonita, de elegante porte, de pedais finos e rodas a condizer. Trazia, antes do guiador, um cesto claro, abrindo caminho. A condutora, uma jovem mulher, de cabelo loiro e lábios rosados. Os olhos expressivos, o nariz bem desenhado. Uma franja que, em tudo, coadunava-se com o seu ar de liberdade. Uma camisa de gola subida um tanto escondida pelo sobretudo. Não saiu da bicicleta, saltou. Encostou-a e no banco ao lado sentou-se. Pegou num caderno de notas e sossegou. Da mala, uma caixa, de lá tirou pedaços de cenoura e à boca levou. Daqui em diante, deixei de acompanhar. Não sei quem é, não sei como acabou. Quem partilhava comigo a pausa, avançou que é uma jovem veterinária com jeitos e trejeitos que lembram outros tempos. Ilude-nos a visão quando não temos na mão o guião. Pouco, mesmo nada, me importa se é verdade ou, antes, uma perfeita ilusão. Atraiu-me a bicicleta com ar romântico, só depois a mulher que a trazia e preferiu escrever à mão, num caderno bonito, petiscando fracções de cenoura. Ao invés de chegar num carro da moda, com os saltos que morrem na calçada e de tomar notas no iPad que, sem fonte de energia, morre a qualquer instante. Gosto de bicicletas. Não menos, até mais, vou acreditando, gosto de pessoas. E de vê-las passar.

6 comentários:

  1. Estava eu aqui, toda concentrada na tua belissima descrição, até ouvia os passarinhos nas arvores e a água a correr na fonte...quando li pedaços de cenoura??!!!!!
    Eish!!!
    A sério.....
    As pessoas que têm a paciência de estar a descascar e cortar cenouras de manhã antes de saírem de casa não são de confiança!!!
    BOLACHAS!!!
    ahahahhah sério.... não sei como conseguem! levo fruta inteira e ...e ;)
    De resto....continuo a dizer que estava a fazer a viagem contigo...quase senti o sol na cara...e tu nem o mencionaste ;)
    Beijinhos

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    1. Entas,
      Nunca sei como agradecer a forma tão amável como devolves o que escrevo. Obrigado. Gosto de te saber nessa viagem.
      Fazes-me, não raras vezes, rir. E muito. Nunca tinha pensado nisso mas, de facto, a paciência pode não ser de confiança ;)
      Venham as bolachas. Mas guardemos espaço para a imensidão do saudável :)

      Beijos.
      Até já!
      Aventura-te e guarda o melhor. Que o folgo só falta aos desavisados. Segue caminho :)

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    2. Também sou moça de gostar de pessoas. Muito. Mas à distância. Sempre à distância. Que bicho do mato como eu não gosta de grandes aproximações.
      Gosto de as observar, num acto de voyeurismo saudável (julgo eu), para tentar adivinhar (melhor dizendo, criar de raiz nesta minha cabecita divagadora) as suas vivências passadas e futuras. Sabe bem. Pelo menos, sabe-me bem. ;)


      Engraçado, ainda no outro dia peguei numa margarida (que isso de malmequer não pode ser nome de flor) para ver o quanto gostam de mim. Peguei numa segunda e deu exactamente o mesmo resultado(em francês, há seis graus diferentes de sentimento e não dois). Pareceu-me que o jogo estava viciado. Desisti. :p






      (fiquei com um tico de remorsos de não ter passado por aqui durante tanto tempo. mas a vida, por vezes, é um reboliço. e as opções nem sempre são as mais acertadas.)

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    3. Mam'Zelle,
      Sempre bem-vinda e pertinentemente assertiva :)
      Aplico as tuas palavras, sem excepção, à minha experiencia "voyeurista" (com as devidas comas), desde - Gosto de observar - até ao piscar de olho. A mim sabe-me bem. Sequer me importa a realidade do objecto (com todas as ressalvas que a pessoa me merece). Torna-se, porventura, num exercício que provoca a imaginação.

      Fazes-me rir, por que lembras um facto pertinente. Malmequer, jamais, haveria de ser nome de flor. Desconhecia essa prática francesa. Tens de me ensinar os graus ;) E desistir nem sempre é mau. Clichés à parte, é um valente sinónimo de sabedoria.

      Volta sempre! Agradeço a eloquência e o humor apurado. E como te compreendo. O tempo não permite tudo.
      Até já! :)

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    4. Il (elle) m'aime,
      un peu,
      beaucoup,
      passionnément,
      à la folie,
      pas du tout.
      :)


      Até já, Real Desprovido! ;)

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    5. E assim se abre uma eventual janela de salvação. Um postigo que seja, para a alma pedinte de amor. Mesmo que não seja muito, quem sabe fique pelo apaixonadamente ;)
      Obrigado! :)

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