14.2.17

Narração histórica.

As letras garrafais de um jornal renomado a lembrar a necessidade de conjugar o amor e o sexo. Esqueceram outros condimentos e deixaram erros ortográficos bem latentes. Ler um romance. Ler sobre o romance alheio. Parece brincadeira de criança, lembrar que ler é jogar com as palavras e as ocasiões. Aludir às memórias mais recônditas e ao presente desnutrido. Como se do outro lado tudo funcionasse sobre um caminho de felicidade eterna. Ainda se escrevem romances e, quer-me parecer, continuam a ter saída. Mesmo que o resumo seja a tragédia. Encontrar noutros, mesmo que fictícios, o amor ou o desamor que já nos acompanha ou que nos deixou, é facilitar a concretização que a necessidade de sentir aguça. Imaginar o outro é menos pedante do que viver o eu. Tiro um café, deixo ficar. Sem mácula, à espera que arrefeça. Dispenso o açúcar, prefiro temperar com a demora. Ligam-me de uma empresa, com voz exagerada, a dar-me os bons dias, a pedir que lhes dispense minutos e responda a um questionário breve. À minha frente, alguém sorri e pisca-me o olho. Pedi que fosse célere, perdi na aposta. De volta, devolvi o sorriso. À minha frente, já de jornal entre as mãos, dizem-me que o amor finge ser tão frágil de abordar que o preferem ao sexo. Desenganem-se as almas iludidas. O amor pesa e não é para menos. Apostam nele por sugerir dispensar tantas armas. Perde o sexo, que não entra na corrida. Tenho dificuldades em aceitar as generalizações, as opiniões superficiais. Há que oferecer tempo ao tempo. Não sei quem ganha, mas fica sempre o sexo como o perdedor precoce. Por fim, entre a prosa matinal susceptível de dissensão, tomo o café temperado.

2 comentários:

  1. Tantas saudades tinha eu de te ler...=)

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    1. Nada,
      É sempre óptimo receber-te por cá.
      Agradecer-te as palavras bonitas e devolvo, com a maior sinceridade, dizendo que é recíproco.
      Até já! :)

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