Aventar
impugnar sobre política é insano. Tão utópico, quanto estimulante. Por força
desta incoerência, um destino que não guarda facilidade no trato e na reacção.
Mesmo que reduzas o debate à tua sala de estar, ao café de sempre ou ao
restaurante que te faz voltar. Ainda que o teu interlocutor seja alguém com
quem privas amiúde, a quem ofereces tempo sem peso, por quem nutres fortes e
inesgotáveis sentimentos. Noutra escala, muda o terreno, a bancada de
espectadores e, se não te perderes, a cabal convicção das palavras. À frente,
outros fazedores de opinião - de quem desconheces a rotina, a herança dos
afectos, as escolhas que fazem fora deste ambiente - capazes de zelar pelo que
acreditam com todas as armas. Se, ao invés de um deles, estiveres na
assistência, vais conhecendo vocabulário que se repete, discussões antigas,
confrontos que não acrescentam e, lamentavelmente, não poucas vezes, o
afastamento do essencial, da troca que importa. Aventar impugnar sobre política
é ímprobo, mas tão fundamental. Num mundo vestido às avessas, destemido na discrepância
de valores, fraco na condução das potências e desigual como jamais quisemos.
Isto lembra-me alguém. Uma mulher tão politizada quanto humana, que não se coíbe
de apelidar a política, generalizando, obviamente, como reduto de uma sociedade
derribada. Levanto questões, mas não deixo de ter um prazer imenso em ouvi-la.
Vê-la de pernas justapostas, mãos incapazes de sossegar e de discurso bonito na
ponta da língua. Assim parece fácil. Assim sou capaz de acreditar.
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