Só
nos faltava mais tempo e que a mesa fosse redonda. Não dou espaço para
questionar. Pois, em abono da verdade, não me restam justificações.
Assomou-se-me a ideia de que as mesas redondas guardaram as melhores das
tertúlias. Não será, factualmente, mentira, nem totalmente verdade. Por
oposição, claro. Talvez, e especulo neste instante, a mesa redonda da sala de
jantar da casa dos meus avós maternos me tenha feito guardar, à margem da
história do mundo, esta ideia. Trago a vaga lembrança de deliciosas e demoradas
conversas ao redor da mesma. A minha avó com o seu cabelo tão armado, o seu ar
altivo e um nada rude, escondia a versão divertida, tamanha a preocupação em
servir bem. O meu avô e os seus olhos claros, sempre mais ameno, disposto e a
rede do convívio. Perdi tanto, que lastimo não ter estado lá mais cedo. O que
me contaram será uma medida muito rasa do que, de facto, por lá aconteceu. Hoje
é uma sala em silêncio. Com a mesa ao centro, as flores viçosas numa jarra. O
quadro gigante numa parede e os outros nas restantes. A estante com peças com
memória. Este domingo, a mesa estava lá – outra e noutro ambiente - comprida,
de madeira pesada, por azulejos bonitos adornada. Sobre ela passou de um todo.
A comida é a união. A bebida não perde terreno. Somos família. Aqui, poucos,
mas exactos. A eloquência é característica e, sem atropelos (às vezes), levamos
a nossa prosa adiante. A minha mãe, em alguns casos, teme que a minha avó –
sempre à cabeceira – ruborize. Mas não há razão. Guardámos-lhe todo o respeito
que nos merece. E, volvidos tantos anos, a avó é uma mulher bem mais liberta
(ligeiramente) de obrigações de um protocolo que lhe faz sentido. Tem a cabeça
arejada e ri dos devaneios de uma descendência que a quer viva.
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