3.4.17

Excelso desenvolvimento sobre um ponto “doutrinário”.

A primavera a dar o ar da sua graça, a favorecer, finalmente, os maldizentes da estação molhada – onde, uma ou outra vez me vejo incluído – a levar as gentes à beirinha das águas ainda frias. Os calções de banho com as listas certas, o bronze comprado, os biquínis da marca que há-de badalar lá mais para a frente. Ao convívio dos castelos de areia. Os pequenos numa felicidade sem tamanho. Os passadiços, as marinas e as esplanadas vestem-se a rigor. Os óculos de sol são novos. As mangas encolheram, as pernas já espreitam a cor dos dias. Encontro alguma pressa nas vestes. Os gelados artesanais e dignos de fotografias para o Instagram a fazerem os primeiros estragos primaveris na dieta alheia. Mas a ganhar gostos porque as legendas são um chorrilho de #HASHTAGSSEMNOÇÃOEMUITAREACÇÃO. Cumpre-se o dia nessa função. Ouvem-se os passarinhos, fisga-se a ideia do romance de algibeira e crescem briosas as flores da época. Fosse capaz de sucumbir à heresia dos amores eternos e era ver-me deitado sobre a flora de um qualquer jardim abastado da cidade. Ou num pedante socalco das imediações. De mãos entrelaçadas com a figura feminina que havia de segurar-me – entre juras de amor constantes, actos a justificar o dito e paixão sem fim (que todos sabemos que é visita de todo o tempo) – até ao último dos meus dias. Ainda com os olhos divididos entre a profunda beleza da jovem e o céu azul sarapintado de um branco fofo. Ainda com tempo para fisgar com o olhar as espécies que viajam airosas pelos ares. Respirando fundo e sentido o pólen invadir as narinas, numa gritante e dura guerra de um inimigo que, bem sabemos, logo depois, gritará dono de todos os decibéis, que restar-nos-ão apenas umas valentes alergias. Terminando, apenas, lamentando a minha falta de jeito por, em momento algum, ter levado outras pessoas relevantes a ver borboletas coloridas e bamboleantes, assim como, não ter colhido as mais frágeis mas simbólicas flores de um qualquer canteiro. Respiro fundo. Mas com cautela. Temo o regresso da hipersensibilidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário