4.5.17

Sequioso estar.

O senhor que hoje pede um café. Ontem uma água mineral natural. No outro dia um descafeinado. O senhor que lê o jornal desportivo agora. Antes leu o generalista. Lê depois a revista sobre o coração. Passa os olhos, como prefere lembrar. Correm os minutos em passos curtos, que a demora é feita. Contudo, é nas letras que se deixa ficar, sem esquecer as imagens. Fica nessa entretenha enquanto a prosa não lhe rouba tempo. E, caraças, perder tempo é uma desilusão. Avanças na descoberta e, não poucas vezes, percebes que o interesse escasseou.  É tremendo. A idade não limou todas as arestas, mas deu-lhe a capacidade de escolher e, em não querendo, de se perder. Deixou ficar o prazer das conversas. O senhor que toma café quando pode, que prefere a água quando o coração, o corpo e a cabeça habituam num desgoverno. O descafeinado para os dias vagos. Médios e castigados por coisa nenhuma. Sentado na mesa do costume ou noutra qualquer. Os óculos são o auxílio dos dias. Acena à entrada, qual majestade chegada. Dirige-se aos presentes, não esquece os bons dias. Diz que não se considera engraçado. Eu discordo. Acho mesmo que tem a noção toda e, por isso, não perdoa na hora de enviar para fora as suas estórias animadas. Os aplausos são risadas largas. Finge-se uma amostra de um anfiteatro por aquelas bandas e não se quer outra coisa. Ser-se feliz não se compadece com a constante chuva de realidade. Sossegam os dias nesta rotina híbrida. Vazia de ocupações antigas, cheia de partilhas nada ébrias. Assim vão aqueles dias. Tão naturais como a vida. Tão efémeras como a mesma. Daqui, um valente aceno de mão. E boas leituras. Eu fico-me pelo café esfriado.

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