14.3.14

Em diferido. #6

Um clássico. Na avenida, a direito, a cena é um terno e eterno clássico. Passa, tangente, uma Vespa conduzida por um rapaz com óculos de sol da marca badalada de então. Um menino de família da linha, das que nos remontam para os tempos em que se albergava uma certa realeza refugiada. Exílios. A viver à sombra e dos rendimentos de uma classe. Já a Vespa ia longe, a curvar para a paisagem que atrai para a região, quando, ainda na avenida, parado num carro estilizado, amarelo, estava quem interessa. A fumar devagar um imponente cachimbo. No pulso que antecede a mão que lhe pega, está um relógio de marca. Pousada no lugar do pendura, a sua castiça Polaroid. Uma mania que correu para a regra. Observar enquanto brinca com o seu pequeno luxo. Num carro amarelo, bitches. Nunca prestou atenção ao desinteressante. E fogem-lhe as ideias para o rapaz da Vespa. O neto. O avô nunca lhe contou. Posto isto, o neto imaginou. Na avenida, num carro amarelo, de óculos escuros, relógio no pulso de sempre, um cachimbo segurado, uma paisagem rica, uma Polaroid a descansar, uma Vespa a voar. Um som do rádio a soar leve, fresco e sensual. Não levem a mal imaginar. Inovador, senhor.

2 comentários:

  1. Imaginar nunca fez mal...mas há vespas e polairods que não colmatam umas quantas faltas...nem que seja de personalidade =P

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  2. Nada,
    Gostei do apontamento e da provocação ;)
    É um facto adquirido, que os bens materiais não se sobrepõem, em tempo algum, à personalidade de um indivíduo. Contudo, reconheço que há algum preconceito com uma certa burguesia.
    Conheço bons rapazes que têm vespas e polaroids. Conheço, também, os que as têm e não valem nada.

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