Domingo
próximo é dia da mãe. Até lá, por razões várias, faltar-me-á espaço para parar
e pousar por aqui. Por estes dias, porque o sol e a moda assim o ditam, os
óculos de sol da minha mãe, de matriz vintage,
são uma das suas imagens de marca. São elegantes, tolerantes, mas atrevidos, ao
jeito de uma qualquer diva de cinema e pejados de identidade. Assemelham-se à
sua gargalhada fácil. À forma despretensiosa de viver o que lhe apetece e como
lhe serve de interesse. Contudo, é infinitamente dotada dos seus predicados.
Sabe gerir e gesticular opiniões. Perde-se quando a emoção toma de amarras a
razão. Não tem vocação para males maiores ou menores, contudo, vive-los sem
entender. Mas dispõe-se naturalmente para ajudar o outro. Não precisa que lhe
justifiquem, ajuda somente. Vocação é a palavra maior quando falamos da sua
posição de mãe. Fá-lo por e com amor, requinte, convicção e vocação, não tenho qualquer
espécie de dúvidas. Hipotecou um tanto da sua experiência e oportunidades, por
amor a uma família que havia de chegar. Vive um casamento por amor. Uma
família, desde sempre, tradicional. É atrevidamente doce e impulsiva no seu
linguajar. A gargalhada é conhecida e reconhecida pelos que lhe querem bem. É,
porventura, um ou mais passos à frente, no que à educação que recebeu à época diz
respeito. Não rasgou a tradição, mas rompeu com estigmas do itinerário
feminino. É feliz em tanto. Parte desse tanto, são os três filhos. Esta manhã,
ainda cedo, convidou-me para a acompanhar numa ida às compras. Numa loja fora
dos centros comerciais, próxima da avenida, que frequenta com alguma
regularidade. Pediu-me opinião como se fosse fundamental. Anui, mas não me
canso de lhe repetir que prefiro, sempre, vê-la ao seu gosto. Sorriu-me, como de
costume. Acabou por comprar a peça que recebeu o nosso consenso. Terminamos, de
óculos de sol pousados, os dela junto aos meus, a tomar o pequeno-almoço, como
noutras sextas-feiras. Felizes como sempre. A conversa nunca esgotamos. A minha
mãe é sempre mais do que parece. Sempre! Vou, no domingo, de viva voz
desejar-lhe o melhor dos dias e que se mantenha daí em diante. Um beijo, mãe.
Até já!
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