16.5.14

Um amigo sujeito à ventura.

Feliz de quem tem ginástica intelectual para escolher, em conformidade, ser feliz. A perfeição junta as palavras e as imagens. Às vezes, proporciona encontros entre pessoas que se colam na personalidade e ganham vida daí em diante. Por força da experiência que é extravasar. Mas, porque persiste, fazemo-lo, apenas, a seguir ao efeito de ter realizado. Um dos meus mais próximos amigos contava, desde tenra idade, que a sua vida seria como vinha idealizando. Não se justificaria a ninguém, mas responderia, ao invés do comum, do uso das palavras, com um sorriso gigante. Todos lhe apontam essa qualidade, nunca desiste e sempre insiste em devolver um sorriso. Haveria de correr mundo, de desleixo no corpo e de ganas na alma. Procrastinou por obrigação. Contudo, em cada encontro de amigos, ou em conversas isoladas, voltava o discurso e a sede de viver como criou na imaginação, de voar sem destino, de conhecer outras raízes, de brincar com a novidade e de quando em vez esquecer o enfadonho e o espartilho de cada dia aqui, num país e família castradores. Afiançávamos-lhe, então, rijeza e apoio no compromisso. Foi carregando a ansiedade. Até que, chegado o encontro de condição, largou tudo e foi embora. Avisou, somente, uns quantos. Onde me incluo. À família prometeu que eram uns dias de férias. À antiga namorada agradeceu o carinho e a entrega, a disponibilidade de tantos momentos. Deixou quantos e quanto lhe fizeram passado. Entrou no avião, devolveu sorriso. Já lá vão uns bons meses, mais do que um ano, ainda menos que dois. Sentimos-lhe a falta. A família roça a tentativa de rogar-lhe pragas. Pela ingratidão, justificam-se desse modo. Ele, pelos diferentes meios, vai fazendo chegar-nos a sua experiência. As vivências que guardou, só para si, antes mesmo de saber, no íntimo do seu interior. Relata-nos, de viva voz, as peripécias mais convidativas, outras que superam o surreal. As fotografias com que nos vai brindando falam por si. Entre paisagens sem classificação, de tão belas e imponentes, e ele que as usa como décor. Mantém o sorriso rasgado. Ainda mais. Um dos meus amigos mais chegados teve a ousadia de riscar. E arriscar. Num período em que o país carrega problemas de várias frentes. Numa altura em que tudo tira a esperança. Sujeitou-se ao risco. Hoje é francamente feliz e realizado. Cumpriu um sonho de raiz. Voltará um dia, sem data. E, tem a certeza, vem para mudar e cortar com tudo o que o impediu de sonhar.

6 comentários:

  1. Por vezes custam decisões assim mas a vida é curta demais para amargura e tristeza, acredito que temos que lutar pela felicidade a todo o custo...ganhou as suas asas...foi corajoso.

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  2. Como compreendo esse teu amigo! É preciso arriscar e sair do conforto, da caixa que nos prende os movimentos, apenas para sermos verdadeiramente felizes. Porque, no final, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". :)

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  3. Mulher Mesmo de Sonho,
    Obrigado pela definição! Não me lembraria de outra melhor. É disso que se trata, do quão raro é viver em função, apenas e só, do instinto.

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  4. Nada,
    É a coragem, precisamente. Quando, no fundo, devia ser, apenas e só, o ciclo natural das coisas. Contrariar, seja porque que razão for, não avalia nada de positivo. Castram-se vidas, antes mesmo de elas se permitirem viver.

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  5. Raquel,
    Adoro essa frase, talvez, tenha nela algumas respostas para a forma como acredito que as coisas devam ser, ao invés de parecer.
    Estou totalmente na mesma sintonia e necessidade deste meu amigo. Percebo-lhe a gana de viver como sente no coração. Pena que o conforto supere, tantas vezes, a vontade de arriscar e voar :)

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