Aquele
prédio é alto. Dos que se impõem. Marca, altivo, a sua presença naquela rua
carregada de movimento, de pessoas, de transportes e de um todo do que se faz
uma cidade central e dinâmica. Também guarda devolutos, tantos. Aquele prédio
tem uma porta grande, de vidros vários, tão alta que convida a cabeça de quem
passa a olhar-lhe nos olhos. Uma montra velha ao lado, esquecida. Tão perdida
no tempo que não passamos sem recuar-lhe o olhar. Tem tantos andares, ainda
mais janelas. As tonturas obrigam a parar-lhes a contagem. Não sei quantas
janelas compõem-lhe a frente, tampouco o verso, que se esconde num dos típicos
jardins recuados. Ainda as janelas e quão diferentes são. Aquele prédio tem
janelas recuperadas, outras renovadas e ainda tantas desprezadas. Algumas
carregam a memória do ar condicionado. Umas limitam-se a ser um vidro inteiro,
as outras de vidros separados. Umas estão abertas, outras fechadas e há ainda
as que, pelo ausente uso, teimaram em tornar-se perras. À entrada, servindo de
tapete à porta grande e à montra zangada, temos calçada portuguesa, num desenho
que fizeram, nos tons que conhecemos. Passam pessoas, param pessoas. Ficam à
conversa sobre todas as coisas e sobre coisa de espécie alguma. Logo a seguir,
há quem entre pelo prédio, depois de avisar, pisando os degraus de madeira,
segurando o corrimão que partilha madeira com ferro. Lá em cima, num terceiro
andar, espera sempre alguém. Com a porta aberta, de sorriso franco, oferecendo
as boas-vindas.
Uma das coisas que mais gosto em viver no Porto é essa felicidade e facilidade na vizinhança. Um "olá", um sorriso permanente, em qualquer esquina do bairro. É muito bom sentir-me sempre em casa :)*
ResponderEliminarRaquel,
ResponderEliminarNem de propósito, falava, na passada sexta-feira, disso mesmo. Da proximidade, das pessoas se conhecerem e cumprimentarem. As cidades oferecem bastante, tiram noutro tanto. Perdem-se contactos afectivos, desconhecem-se os indivíduos que partilham a rua ou o prédio connosco. Não se partilham os bons dias. Baixam-se as cabeças, apenas, para não encarar o outro. Agora, ter o privilégio de sentir o lugar como nosso, sem deixar de viver e conviver com os outros, não tem melhor :)
Beijo.