15.5.14

Seja bem-vindo.

Aquele prédio é alto. Dos que se impõem. Marca, altivo, a sua presença naquela rua carregada de movimento, de pessoas, de transportes e de um todo do que se faz uma cidade central e dinâmica. Também guarda devolutos, tantos. Aquele prédio tem uma porta grande, de vidros vários, tão alta que convida a cabeça de quem passa a olhar-lhe nos olhos. Uma montra velha ao lado, esquecida. Tão perdida no tempo que não passamos sem recuar-lhe o olhar. Tem tantos andares, ainda mais janelas. As tonturas obrigam a parar-lhes a contagem. Não sei quantas janelas compõem-lhe a frente, tampouco o verso, que se esconde num dos típicos jardins recuados. Ainda as janelas e quão diferentes são. Aquele prédio tem janelas recuperadas, outras renovadas e ainda tantas desprezadas. Algumas carregam a memória do ar condicionado. Umas limitam-se a ser um vidro inteiro, as outras de vidros separados. Umas estão abertas, outras fechadas e há ainda as que, pelo ausente uso, teimaram em tornar-se perras. À entrada, servindo de tapete à porta grande e à montra zangada, temos calçada portuguesa, num desenho que fizeram, nos tons que conhecemos. Passam pessoas, param pessoas. Ficam à conversa sobre todas as coisas e sobre coisa de espécie alguma. Logo a seguir, há quem entre pelo prédio, depois de avisar, pisando os degraus de madeira, segurando o corrimão que partilha madeira com ferro. Lá em cima, num terceiro andar, espera sempre alguém. Com a porta aberta, de sorriso franco, oferecendo as boas-vindas.

2 comentários:

  1. Uma das coisas que mais gosto em viver no Porto é essa felicidade e facilidade na vizinhança. Um "olá", um sorriso permanente, em qualquer esquina do bairro. É muito bom sentir-me sempre em casa :)*

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  2. Raquel,
    Nem de propósito, falava, na passada sexta-feira, disso mesmo. Da proximidade, das pessoas se conhecerem e cumprimentarem. As cidades oferecem bastante, tiram noutro tanto. Perdem-se contactos afectivos, desconhecem-se os indivíduos que partilham a rua ou o prédio connosco. Não se partilham os bons dias. Baixam-se as cabeças, apenas, para não encarar o outro. Agora, ter o privilégio de sentir o lugar como nosso, sem deixar de viver e conviver com os outros, não tem melhor :)
    Beijo.

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