Conheci-a
num dia solarengo, antes do verão quente, depois das chuvas intensas. Num dia
que, num outro tempo, oferecer-nos-ia temperaturas amenas. O meio-termo
foge-nos pelos dias, desata num galope de quem não tem espaço na agenda, de
quem não guarda lugar para esperar, como a água escorre pela pele abaixo ou a
areia investe numa corrida sem fim, por entre os dedos. Não consigo precisar o
tempo que passou de lá para cá. Não há muito. Sem pensar, um ano que não parou.
Porque o raro tem posição e prerrogativa para recusar parar. Mas, num jardim
amplo e que nos engole só de olhar. À primeira vista, perdemo-nos logo, se não
focarmos. Foi onde a encontrei. Havíamos marcado de surpresa. De ar pesado,
algo másculo, estava de pé. Aquele corpo enérgico tinha um vestido a compor.
Segurava, numa mão, partes de azulejos. A sua inspiração de cada dia. As mãos,
apercebi-me no entretanto, estavam marcadas do trabalho. Sentamo-nos num
baloiço. E, também aqui, o vagar pareceu tudo menos demora. Falou, nos
primeiros relatos, a medo. Num tom baixo, num recurso a palavras repetidas.
Sintoma de quem guarda nervos. Depois, bem depois agarrou o discurso e as
memórias de tal forma, que conduziu sem esforço. Uniu-os, como só quem vive, se
permite fazer. Agradeço, sempre, quem partilha vida comigo. Também à árvore
que, durante toda a conversa, nos segurou tão bem. Os azulejos são a sua mala
de mão. Não me esqueço.
Tão bom!!!!
ResponderEliminarPartilha, baloiço alegria conversa... gratidão..
sim a gratidão da amizade...
pena que tão poucos a valorizem
beijinhosss
Nos Entas,
ResponderEliminarÉ brilhante como o ínfimo pode ser o todo. Garanto que não é um recurso da filosofia barata de mesa de café. Sinto-o assim, tal e qual. Sem mexer. A partilha e gratidão de que falas, são propriedades raras e gabo-lhes, sempre, a existência :)
Beijinhos.