O
fundo é tão verão como um fim de tarde ventoso, uma maré agitada ao fundo, o
sol a espreitar e a espalhar pequenos espelhos pela água, o casario pintado de
cores vivas e diferentes. Aquela gargalhada, se quisermos uma valente risada,
enquanto as duas mãos se juntam e esboçam, tanto quanto lhe é possível, um
coração. A maldade do tempo é que, se procrastinarmos, ele fia-se no nosso
balanço desassossegado e ajuda-nos a perder vontades. Ela nunca percebeu a
necessidade de devolver às mãos, um coração. Seja amostra do carinho e tentação
palpitante do seu coração, seja a pretensão de que o de alguém, ali ou
distante, lhe pouse, vaidoso, entre os dedos. A risada era tão sonora e descia
pelo corpo que respondia com movimentos que mostram incapacidade de resistir.
Desmanchou-se, sem remédio, o coração inventado. Lamentava-se, entre risos e o
desajusto do corpo, nunca ter feito uma fotografia com o coração nas mãos.
Cruzou os braços e posou, desencontradas, as mãos. Uma em cada ombro. Já está.
Uma fotografia. Um coração no lugar certo. Vai continuar, felizmente, sem viver
com o objecto do afecto nas mãos.
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