6.11.14

Secou a humanidade.

Julgo ter visto o Pai Natal. O tempo não tem pausa. E, permitam-me a infantil necessidade de me lembrar e, por força, fazer referência ao excelso trava-línguas – O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem - Ano de velhos relhos. Relhos ligados de emoções, desligadas as famílias, que se distanciam. A facilidade de depositar algures, na promessa de regressar em breve. Na boca a conversa de que não se ajeitam as condições de os receber. Esta manhã tive oportunidade de estar algum tempo num hospital. É público, mas podia tratar-se de um outro regime. E perde-se o juízo na soma do homem com o abandono. Ludibriam-se vidas e ocupações para justificar ausências e severas acções. Quem persiste, resiste. Quem ama, cuida e rega sob e sobre tudo e todos. Aflição é pensar no que foste, em quem és. Para onde vais. Sufocam-se as vozes daqueles velhos de cama em cama. Voltam sempre mas nem ao telefone lhes ouvem as vozes. Não resisto pensar, dá Deus nozes a quem não tem dentes. Desabafo de um relho homem. Imitava um passeio num corredor de pouca luz. Na cadeira de rodas seguia de sorriso agitado. As barbas compridas e brancas. O porte típico de quem tem carnes. É o Pai Natal. Foi, no exacto instante em que vi, o que me assaltou a ideia. Suportei as minhas desconfianças depois de o ouvir contar vidas. Julgo ter visto o Pai Natal. Num corredor de hospital, com uma bata clara e um frasco de soro ao lado. Quando nem o Pai Natal tem quem o sufoque de mimos e companhia, mal vai o mundo. Um mundo que é uma caixa onde se esconde o pior no fundo.

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