Era
ainda petiz quando ouvi esta conversa. É a certeza de que a cidade te recebe,
mas a criação nunca esquece. O possante carro ficou logo ali. Anda à roda num
lugarejo de vizinhas curiosas, de jardim à boca da singela capela. Murmúrios de
mural em frente ao café das novidades, saudades que atiçam as memórias de
amores, relações, traições e tradições. É aldeola de meninas que ainda vestem
saias rodadas, que não sustentam da boca para dentro a malvada necessidade de
saber e conhecer quem passa. É calçada molhada da humidade da noite fria, é a
fonte que seca mais vezes do que os nervos têm ganas de a procurar de garrafão
nas mãos. Mas não desiste de pingar. Enquanto se matam lembranças da porta da
Maria Etelvina, da mercearia do José Joaquim, da garagem do bonito carro do
Cesário. Do coreto inventado nas costas do jardim. Da cantoria da Carmelita.
Ora chove, ora faz sol. O vento vai dando tréguas. A idade pesa tanto quanto o
estojo do caminho passado. Neste lugarejo que provoca as estruturas de uma
cabeça que ainda não esqueceu. Neste cenário, o homem que anda na viva roda,
leva um lenço de bolso. Dele, do homem, hei-de voltar a escrever. Dele, do
lenço de bolso, hei-de me lembrar de escrever, sobre a estória que conheço e a
importância que lhe ofereço.
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