Estranho,
nunca me lembro de como é que as coisas aconteceram. Nem é tão relevante quanto
fazem parecer. Interessa aos envolvidos. Acho que faltou a luz e decidiram que
era melhor colocar um ponto final – não gosto desta expressão, prefiro outras,
como terminar a relação ou seguir caminho, mas apetece-me ser fora da caixa - do
que investir no conserto do que andava manco. Com um lustre daquele tamanho no
centro daquela sala avantajada, era a desculpa perfeita para o entretenimento e
não mais se falar no assunto. Continuavam alheios e felizes da porta para fora.
E da porta para dentro. Não discutiam e ocupavam-se da troca das muitas luzes
que pendem daquele candelabro. Caro, mas uma oferta de casamento. Só trocavam
sorrisos falsos e vontades disfarçadas. Viveram felizes num sempre que não foi
além dos três anos. Como se o tempo, por si só, formasse as pessoas. Tinham
luzinhas e fotografias por toda a casa. Só lhes faltava a piscina que ficou na
casa dos pais. Trocaram e trouxeram o carro de alta cilindrada e o Mini para o
dia-a-dia. Ou vivo enganado, ou isto não importa nada. Não tem relevância e não
revela nada. Vozes de burro não chegam ao céu. Expressão que não combina com a
leveza e luxúria de uma vida cheia de torneados bons. Como não interessa as
razões, apenas as reacções. Por isso, incomodam-me os dedos em riste, prontos
para usar da verdade absoluta e apontar os erros. Calma, bons rapazes! Cautela,
meninas de bem! Ele foi para um país onde a língua tem aroma. Ela ficou por um
Portugal que tem memória e grita a dor. Olhos que não vêem, coração que não
sente. Guardem as bárbaras verdades. E vivam as vossas vidas, com ou sem
novidades. Olhem para a vossa sala. Fechem as cortinas e deixem os outros
passar. Estranho. Agora mesmo, enquanto pensava e escrevia, fiquei com a sensação
– inócua, por certo – de que por me preocupar com factos reais, não sei contar
a história como ela é. Mas tinham o lustre. E as fotografias, as luzinhas e os
carros. O chão de madeira e as varandas largas. Tinham amor. Foram sinceros.
Guardaram o mais importante e seguiram separados. O resto é ironia da minha
parte. Amigos, não se apoquentem. Ter um lustre daquelas dimensões na vossa
sala era tão sui generis. Como vocês.
Fiéis à vossa razão.
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