2.3.15

Sem favores à mistura, é um ponto de vista.

Estranho, nunca me lembro de como é que as coisas aconteceram. Nem é tão relevante quanto fazem parecer. Interessa aos envolvidos. Acho que faltou a luz e decidiram que era melhor colocar um ponto final – não gosto desta expressão, prefiro outras, como terminar a relação ou seguir caminho, mas apetece-me ser fora da caixa - do que investir no conserto do que andava manco. Com um lustre daquele tamanho no centro daquela sala avantajada, era a desculpa perfeita para o entretenimento e não mais se falar no assunto. Continuavam alheios e felizes da porta para fora. E da porta para dentro. Não discutiam e ocupavam-se da troca das muitas luzes que pendem daquele candelabro. Caro, mas uma oferta de casamento. Só trocavam sorrisos falsos e vontades disfarçadas. Viveram felizes num sempre que não foi além dos três anos. Como se o tempo, por si só, formasse as pessoas. Tinham luzinhas e fotografias por toda a casa. Só lhes faltava a piscina que ficou na casa dos pais. Trocaram e trouxeram o carro de alta cilindrada e o Mini para o dia-a-dia. Ou vivo enganado, ou isto não importa nada. Não tem relevância e não revela nada. Vozes de burro não chegam ao céu. Expressão que não combina com a leveza e luxúria de uma vida cheia de torneados bons. Como não interessa as razões, apenas as reacções. Por isso, incomodam-me os dedos em riste, prontos para usar da verdade absoluta e apontar os erros. Calma, bons rapazes! Cautela, meninas de bem! Ele foi para um país onde a língua tem aroma. Ela ficou por um Portugal que tem memória e grita a dor. Olhos que não vêem, coração que não sente. Guardem as bárbaras verdades. E vivam as vossas vidas, com ou sem novidades. Olhem para a vossa sala. Fechem as cortinas e deixem os outros passar. Estranho. Agora mesmo, enquanto pensava e escrevia, fiquei com a sensação – inócua, por certo – de que por me preocupar com factos reais, não sei contar a história como ela é. Mas tinham o lustre. E as fotografias, as luzinhas e os carros. O chão de madeira e as varandas largas. Tinham amor. Foram sinceros. Guardaram o mais importante e seguiram separados. O resto é ironia da minha parte. Amigos, não se apoquentem. Ter um lustre daquelas dimensões na vossa sala era tão sui generis. Como vocês. Fiéis à vossa razão.

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