Saiu-lhe
um palavrão sem pensar. O modo de viver que decorre do nascimento até ao ponto
final é digno daquela palavra. Qualquer dia ensandeço, viro costas e vou-me
embora, compro uma quinta que me faça perder o horizonte. Deixo-me ficar lá,
hei-de gozar o triplo. Dizia ele e não deixa de ser verdade. As opções existem,
falta a coragem, a insensatez e o desapego aos nossos. Lembrei-me desta
conversa enquanto ouvia música. Um som dos anos oitenta, se não me engano, de
mil novecentos e oitenta e dois. Está sol lá fora, falam-se dos altos níveis
dos raios UV, antecipando cuidados. Nas ruas há gente a viver as temperaturas
mais secas. Há chinelos no pé, t-shirt no lombo, calções sem condizer. Vestidos
fluídos às cores. Flores e riscas por todo o lado. Chapéus com fitas à volta
que ganham nomes tão técnicos que nos fazem parecer descerebrados. Também
importa, mas não interessa nada. Assusta-me a banalidade com que se abordam
certos temas. A facilidade em tomar a vida do outro pelo nosso olhar. O nosso
prisma, as nossas vivências vão, inevitavelmente, talhar as nossas opiniões.
Ficam inquinadas e, para sermos justos, não traz benefícios. Como a exposição,
tempo sem conta, ao sol. Sem protecção e sem juízo. A última é uma
característica deste homem, do mesmo que ameaça mudar de vida. É mais velho que
eu, habituei-me a escutar-lhe as estórias e a sabedoria. Talvez, seja essa a
procura de todos os dias. Uma das maiores, se quisermos. Pior do que não saber
onde estamos, é não saber quem somos. Não acredita em Deus, mas sabe que quando
lhe chegar perto, será, por demais, bem recebido.
Que bem que me sabia poder sair, agora mesmo, de vestido fluído às flores. Mas a chuva não me deixa. :)
ResponderEliminarSaber quem somos e vivermos a nossa vida em função do que é o melhor para nós - do que nos faz sentir efectivamente vivos - e não para impressionar terceiros, eis um excelente ponto de partida para aproveitar a nossa estadia neste mundo.
Mam'Zelle Moustache,
EliminarDesconfio que foi uma partida meteorológica. Ou insensatez estrangeira. Que chegam uns raios de sol e logo se respira por cada pedaço de pele. Logo depois, voltou a chuva a o tempo cinzento.
Fundamentalmente é isso. Estou totalmente de acordo. A tal fidelidade é procurar viver em sintonia com o que nos faz bem. Resumir a existência à pressão alheia, à exibição de circunstância, é embriagar para não mais lembrar. :)