2.4.15

Contribuição para um dueto de grande rapsódia.

No escritório do terceiro piso daquele afamado prédio de negócios variados, está uma secretária. Melhor, está uma mulher que se dá pelo ofício de secretariar. Quem dela precise. Digo. Maldade a minha. Ela ginga a anca marcada pela saia subida, desenhando-lhe o corpo elegante. Calça, em cada pé, uns saltos altos negros e afiados, que ajudam a suportar as nádegas firmes. Coloca, quando lhe apetece, uns óculos que, hoje em dia, facilmente apelidamos de vintage. Assim é o seu desenho. Ela passeia-se pelas secretárias e divisões seguintes, enquanto ajeita o decote avantajado. Segura folhas numa mão, uma caneta na outra. E, por ali anda. Gingando o corpo. Inevitavelmente, chama as atenções para si. O cabelo é negro e revoltado pelos assanhados caracóis. Tem batom nos lábios. Sorri facilmente. É uma mulher que se conhece e sabe agir. É uma peça do puzzle, daquele puzzle que é um prédio ligado por escritórios. No fim do expediente, desliga o que lhe compete, chama o elevador, desce. Passa a porta e assume a postura que agora lhe é exigida. Não sei qual é o seu pensamento, mas nota-se a diferença. Opõem-se as posturas. Propositadamente, talvez. Não importa. Não conhecemos alguém, homem ou mulher, pelo seu gingar. Parece-me tão redutor como dispensar um champanhe pela embalagem.

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