No
escritório do terceiro piso daquele afamado prédio de negócios variados, está
uma secretária. Melhor, está uma mulher que se dá pelo ofício de secretariar.
Quem dela precise. Digo. Maldade a minha. Ela ginga a anca marcada pela saia subida,
desenhando-lhe o corpo elegante. Calça, em cada pé, uns saltos altos negros e
afiados, que ajudam a suportar as nádegas firmes. Coloca, quando lhe apetece,
uns óculos que, hoje em dia, facilmente apelidamos de vintage. Assim é o seu desenho. Ela passeia-se pelas secretárias e
divisões seguintes, enquanto ajeita o decote avantajado. Segura folhas numa
mão, uma caneta na outra. E, por ali anda. Gingando o corpo. Inevitavelmente,
chama as atenções para si. O cabelo é negro e revoltado pelos assanhados
caracóis. Tem batom nos lábios. Sorri facilmente. É uma mulher que se conhece e
sabe agir. É uma peça do puzzle, daquele puzzle que é um prédio ligado por
escritórios. No fim do expediente, desliga o que lhe compete, chama o elevador,
desce. Passa a porta e assume a postura que agora lhe é exigida. Não sei qual é
o seu pensamento, mas nota-se a diferença. Opõem-se as posturas.
Propositadamente, talvez. Não importa. Não conhecemos alguém, homem ou mulher,
pelo seu gingar. Parece-me tão redutor como dispensar um champanhe pela embalagem.
Sem comentários:
Enviar um comentário