30.4.15

De Londres, com saudade.

Foi assim que terminou a mensagem que me chegou ontem ao e-mail. Vem de lá uma parte da saudade, que a vou tendo dispersa. Feita em pedaços, numa Europa altiva, numa Europa romântica, num ou noutro continente. Nova Iorque tem trejeitos e não guarda, hoje em dia, nenhuma fonte de saudade. Mas guardo-lhe alguma curiosidade. De Londres, vem uma amizade antiga, num táxi bonito, de saltos altos e maquilhagem irrepreensível. Enquanto, de maçã na mão, escreve sobre a distância. Relata, sem sossegar, o que ganhou depois de se mudar. Também perdeu e escreve sobre isso com a mesma dignidade. Misturada com a serenidade. Embora, as palavras escritas possam enganar, porque perdem a identidade da voz e do tom do interlocutor, vamo-nos lendo em sintonia. Há uns anos emprestaram-me um livro. A capa era dura, tão forte e pisada pelo tempo. Não consigo perceber se estava numa ou noutra fase. Mas não esqueci. Quem mo emprestou fez bastante questão. Leva-o, toma-lhe as conversas quase inexistentes e guarda o texto corrido e as descrições. As descrições, essas sim. Moldavam, propositadamente, toda a história. Bem sei, adiei até não mais conseguir, o dia em que trouxe o livro para casa. Leva-o, desta vez, leva-o. Vais atentar a intelectualidade e questionar a espiritualidade. Lê com calma, dedica-lhe tempo. Fiz como pedido. Lembro-me que no exacto momento em que cheguei à última página, lhe devolvi uma mensagem. Citação breve, um pensamento mais demorado. Que não é novidade, tenho tendência a ser longo na prosa. Quem mo emprestou, a amiga brava que conversa de Londres, respondeu-me. Muitos elogios e todos fundamentados pelo poder de argumentação. Conversamos imenso, escrevemos ainda mais. Daqui, com saudade.

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