Sempre
que a vejo de coração nas mãos, ameaço tirar-lhe uma fotografia e guardá-la
para sempre. Podia desenhá-la, pintá-la ou escrever sobre as sensações e as
reacções. Mas a fotografia está sempre ali. Com a geração da tecnologia, o caminho
é fácil, reduz-se o pensamento e escasseiam as dúvidas. Escolhes sempre a chapa
do momento. Que o céu é azul, que o mar é salgado e que Zé canta o fado, já
todos sabemos. Que ela é intimidade e verdade num enredo singelo, é outra
viagem. Perguntaram-me e respondi como da última vez. Volto a estar de copo na
mão. Agora, sentados na avenida da nossa terra. Voltar às raízes também é
segurar o coração com outra convicção. Porventura, aqui, perdem-se os receios e
as questões de um futuro breve. Não se temem as mãos trémulas e o coração
desamparado. Porque isso não acontece sem rede, sem protecção. Alguém lançou
que tinha pena de quem não tem para onde regressar. Lamentamos a cidade que é
berço e vida. Mas volto sempre à cidade que não é minha por um qualquer
desentendimento astral. Falho na escolha do vocábulo, por não acreditar,
tamanha a dúvida. Seguiram-se outras perguntas e a todas respondi da mesma
forma. Os amigos riem juntos e são felizes. Os amigos prestam-se ao silêncio
sem peso e são felizes. Vivam na raiz ou ganhem sustento num lugar que os
adopta. Quando voltava para casa, no carro, tive a certeza de que, de coração
nas mãos ou de risada despreocupada, hei-de querer guardar esta intimidade para
sempre.
Este texto faz-me lembrar uma frase.... I wish my eyes could take photos.....
ResponderEliminare embora até consigamos, não conseguimos armazenar, eternizar as imagens.... esfumaçam-se..
Mas, engraçado como falas em voltar às raizes.... e mais tarde no "regresso a casa"
Guarda sempre...no coração :)
Beijinhosss
Nos Entas,
EliminarOlha, bem lembrado. Podia ser precisamente esse o título.
Contradigo-me, não é? De alguma forma é isso mesmo, um lugar toma as definições do outro. Uma coisa é certa, voltar às raízes e nunca as perder, é o melhor :)
Guardá-las-ei sempre. Seja numa fotografia revelada, seja na memória.
Beijinhos.